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A mostrar mensagens de 2009

ESTIO À BEIRA-FRIO

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Sinto no frio da água E no outono da folha O Inverno ch egado. Um certo desalento Um certo desagrado E uma paixão no mesmo assento. Porque será ? É agora o tempo Do crepitar da brasa E do silêncio recolhido No calor do livro. É tempo de carpir E de despir a árvore A folha desbotada. Mas se é lisa a fêmea vegetal Cobre-se de folhagem O chão E a fria paisagem Esquenta a emoção Da miríade miragem. O vento geme nos beirais E dos confins do céu Não há sinais de asas. A chuva é cântaro Mas crepita o lume E a mão espevita Lascivamente o livro. A página levanta a saia Num sorriso de catraia E faz-se estio à beira-frio.

Velas e rosas apaziguadas.

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Fui lá. Hoje. Só hoje. Sem atropelos. Sem multidões. Sem chuva. Deixei flores cor-de -rosa. Já lá havia as que a Maria colocara.Tudo limpíssimo. Tudo simples. Pus os círios. Alguns. Acendi-os. Li os nomes: Maria Améla Antunes Coelho Martins; José Antunes Lopes; Guilherme Antunes Lopes; Abílio Antunes Lopes; Maria do Carmo Antunes Lopes; Sérgio Miranda da Silva. Faltava um. E é Antunes.E é Martins. Ainda não o mandei gravar. Uma certa relutância. Até hoje. Para te ter mais cá. Erro meu. Está lá a tua mãe. E é Martins. E é Antunes. Nunca tinha pensado nisso. Mas hoje sim. E os teus irmãos e o teu marido. Por isso é tempo de te nomear com a palavra gravada na lápide, junto dos que tanto amaste e choraste, quando se foram, muito antes de ti. Sobretudo ela. Como eu. Deixei lágrimas. Por ti , pelo pai, pela madrinha, pela avó Amélia (que pena não a ter conhecido!), cega, mas com as tais mãos que bordavam mistério. Voltaste ao ventre e nunca tinha pensado nisso.Vim apaziguada.

Outono e é tão cedo!

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O destino é incerto mas a hora certa. Breves somos e falecem nos jardins as rosas Com a descida da luz mais cedo. O verão voltará mas não seremos já tão altos E o Outono nos inclina para as folhas magoadas Que dos ramos belos se despiram. A folhagem jaz por terra. O banco solitário aguarda a água. Um calor qualquer nos aquece Antes da noite. Mas é tarde já E é tão cedo.

Terra mais Linda!!!!

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Nunca tinha entrado no silêncio. Um silêncio intocável com agudas vozes de aves felizes. A baía estava alí, oferecia-se aos olhos tão necessitados de apaziguamento.Era a baía do silêncio onde o Manel, amigo da minha filha, nos tinha levado. Ele queria que víssemos um sítio onde em miúdo costumava acampar para que compreendéssemos o porquê de tanto amor. A entrada parecia um portão de uma quinta"avance, pode entrar". Fomos descendo de carro até ao espectáculo do espanto da água e do verde e daquelas vozes batidas por asas. Que mistério era aquele? Que silêncio distinto dos outros se demorava ali, num namoro entre o terreno e o divino? Ou era a miragem do eterno, tal a espiritualidade que se respirava naquele deslumbramento de verdes que a água reflectia? Apetecia-me uma manta para me estender de olhos virados para o bosque onde os pássaros se satisfaziam em sinfonias sedosas. Apetecia-me aquele silêncio, mas curiosamente o meu marido falava, falava"ca

BARRELA À ALMA

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Vou tentar um tempo de repouso. Sem telejornais. Sem jornalistas. Sem políticos. Sem comentadores políticos. Sem ministros da treta. Sem Felgueiras e Isaltinos. Sem blogs. Quero saturar-me de azul estendido e de água mimética. Boas Férias para os meus queridos leitores e para todos que estejam tão saturados de «sujidade» quanto eu. Vou purificar-me. Fiquem bem, sim?

LÁ!!!!!!!!!!!

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PROMETO QUE VOU CONTAR. SÓ NÃO SEI QUANDO. PARA JÁ AINDA LÁ ESTOU.  QUARENTA ANOS DEPOIS VOLTEI LÁ. SEI QUE PEGUEI O TEMPO NOS MEUS BRAÇOS NUMA RESPIRAÇÃO VIBRANTE DE ENTORPECIMENTO. COM DESVELO. COM PUDOR. COMO O PRIMEIRO BEIJO. AH, O PRIMEIRO BEIJO! UMA MÁQUINA FRATERNA CAPTOU A VIBRAÇÃO DA EMOÇÃO. ELA CONHECE-ME.

HÁ DOÇURA NAS AVES

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Há doçura nas aves E ternuras puras Mais que humanas Brama em chamas A alma sofrida Já não há ninho Mas o passarinho Vela a morte da consorte No chão jazida. Ainda Amor tentou Em vão salvá-la Mas sem compaixão A morte escureceu o coração. Ah, alma minha"Assim deixaste Quem não deixará nunca de querer-te! Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te, Tão asinha esta vida desprezaste! Como já pera sempre te apartaste De quem tão longe estava de perder-te?" Não lhe responde a ave Que veloz voava No chão deitada Já não é nada Mas vela a dor Amor Que a dor aberta No coração manda E tudo desmanda Qual o poeta.

BRUMAS

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Antes da luz Eu já lia e escrevia No ventre de minha mãe E ouvia a tabuada E os rios e os reis E os recreios também. Era bom o ventre berço E as paredes da escola Por isso me fiz ao leme Para apostar na herança Ateada no tear das veias E prossegui viagem Doce aragem num mar Onde as águas floresciam E os peixes recresciam Em ondas altas de espuma Hoje à deriva trago O barco estilhaçado Nas amarguras da bruma E o enjoo me traz à proa Mas num mar em pranto Grito meu ou desencanto?

DIA DA RAÇA, DIA DA RITA !

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Querida Rita, Escrevo-te para te dizer que só podias ter nascido no Dia da Raça. Mais nenhum dia te assentaria que nem uma luva como este. Mulher vigorosa, destemida, Maria da Fonte desde menina, senhora do teu nariz e de ti mesma. Nasceste para triunfar e para gerar o menino mais lindo do meu coração (e olha que o meu coração é mesmo lindo e a modéstia é uma sensaboria), por quem derramei lágrimas de alegria, desde que soube que a semente tinha sido plantada na tua leira. Ainda ontem eras menina em cima das dunas, tal como a Inês e a Joãozinha e a Marta e o Luís e a Sofia, todos agarrados à minha saia cor-de-rosa, extasiados com a nossa música e a nossa dança sem lobos, indiferentes ainda ao crescer voraz do tempo. E o mar estendia-se à nossa frente, num odor salgado que dilatava as narinas, numa superfície sedosa, de sedução vigorosa de azul e verde, com os moinhos mais ao longe, contentes de nós, fruindo aquele tempo onde o espaço era lúcido e inteiro. Ainda ontem eu tinha a tua ida

FELIZ DIA DA MÃE

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No correr do rio havia outra margem E nas águas te foste e eu fiquei com frio Não sei se foste ontem ou hoje ou se foste... Que importa quando? Ainda te ouço na boca da noite Rezando em murmúrio E as tuas mãos seguram o terço. É tarde. Estou deitada na cama contigo E nada é escuro. Seguras-me os medos E a trovoada passa. Afinal a memória guardou-te intacta E no silêncio nocturno te encontro Como na casa do passado Aqui acesa nos meus dedos. Voltaste linda, cheia de graça, Ó maria, minha mãe, Feliz no teu dia Aleluia, aleluia!

AINDA TEMPLO

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Ainda é templo, mãe, a quente alegria desse ventre, concha branca, limpo tempo, onde de rosas teu odor foi canto e meu sustento. Tenho água na saudade e só não grito para não acordar o sono repousado no cais abandonado em que me habito.

ABRIR ABRIL

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Abrir de novo Abril Abrir com lírio Um novo abrir De Abril Abril sonhado Abrir Abril em festa E rosmaninho Abrir de novo Abril Já sepultado Abrir Abril de rosa Cor de púrpura E não abrir d’Abril Túmulo caiado Abrir de novo Abril Abrir com lírio Abrir de novo Abril Abril com cravo Abrir de novo Abril Ressuscitá-lo Abrir Abril em asa Abrir de novo E devolver a Abril Abril imaculado Abrir de Abril Abril do Povo.

CHÁ D'ABRIL

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Ah tragam-me um chá Um chá urgente de menta Ou pimenta preta Ou cidreira ou tília Um chá de sabor a terra De eucalípto ou oliveira Numa chávena de Abril. Ah, tragam-me um chá Com aroma a cravo Também pode ser Um chá em clave de Sol Ou em mi(m) maior Ah tragam-me um chá De todas as maneiras Com aroma verde Em vaso de esperança Também pode ser Tenho sede Ah tragam-me um chá De aroma de maçã Que o chá aquece A alma que fenece No frio deste Abril Em que um cravo canta Esganado na garganta.

Páscoa Feliz! Aleluia!

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Por amar de mais morreu pregado numa cruz. Uma morte brutal sem palavras de consolo " Pai, porque me abandonaste?". Apenas a dor de sua mãe estraçalhada em ondas de gritos impotentes em oceanos de lágrimas, pelo peso do mundo que o seu filho carregava no corpo, humilhantemente nu e barbaramente exposto numa cruz, cujo suor escorria em sangue, pelo rompimento de vasos capilares flagelados pelos açoites, pela coroa de espinhos que penetravam o crânio, pelas dores lancinantes de lesões provocadas pelos pregos hediondos e certeiros do martelo implacável nos pulsos e nos pés. Mas no meio da agonia ainda tem palavras para suplicar:"Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem". Por amar, morreu. Por amar de mais. E continua a morrer e a sofrer humilhações, na vastidão dos séculos, em holocaustos incompreensíveis de ódio e desamor, num sofrimento vão e inútil, senão para "os que sabem o que fazem". E para esses o perdão e o rosto limpo e as "est
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Por amar de mais morreu pregado numa cruz. Uma morte brutal sem palavras de consolo " Pai, porque me abandonaste?". Apenas a dor de sua mãe estraçalhada em gritos de ondas impotentes em oceanos de lágrimas, pelo peso do mundo que o seu filho carregava no corpo, humilhantemente nu e barbaramente exposto numa cruz, cujo suor escorria em sangue, pelo rompimento de vasos capilares flagelados pelos açoites, pela coroa de espinhos que penetravamam o crânio, pelas dores lancinantes de lesões provocadas pelos crivos plantados pelos pregos hodiondos e certeiros do martelo maligno nos pulsos e nos pés. Mas no meio da agonia ainda tem palavras para suplicar"Pai, perdoai-lhes, porque eles não sabem o que fazem". Por amar, morreu. Por amar de mais. E continua a morrer e a sofrer humilhações, no corredor dos séculos, em holocaustos incompreensíveis de ódio e desamor, num sofrimento vão e inútil, senão para "os que sabem o que fazem&qu

Parabéns, fruto maior!

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(Gaelle Boissonnard) A autora deste blog, minha mãe, flor de luz e mar, faz anos hoje. Entro, assim, pé ante pé, bem de mansinho, para a encher de beijos e risos neste dia: I ntensamente floresces S egura e doce A tlas de frutos B ordado de oiro É s Peixe de Março L avrado em verde I ndelével e puro T erno e imenso. A grad eço ao céu, terra e mar tua presença, estrela do mundo, enleio lunar! Parabéns, estrela maior!!

VOU ACORDAR MAIS VELHA

Mais um ano de vida sobre o meu corpo.Toda eu envelheci, ainda que o tempo tenha sido generoso comigo. Mas envelheci. E não é aquela velha história de que todos envelhecemos. Envelheci pela força de muitas histórias que a vida somou em cinco décadas e mais de meia. Envelheci nos ossos que começam a dar os primeiros sintomas de desgaste, na pele que começa a perder a rigidez, no rosto que acusa algumas rugas. Envelheci e já é irreversível este envelhecimento de comando ou descomando hormonal. Não posso fazer nada. Envelheci. Curiosamente, sinto não sei onde, ainda a acenar-me, uma alma de menina. Continuo a gostar de brincadeiras malucas , de sorrisos e de gargalhadas, de partidinhas, de surpresas, do sol infinito e das árvores altas( mesmo se as vejo de baixo), da areia do mar, das crianças( meu Deus, as crianças!!!) , do passado que guardo intacto no meu espaço mais íntimo. Vou acordar um ano mais velha.Cinquenta e oito folhas de uma árvore outonal que receia perder a seiva ou v
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Borboleta-flor, de boca laranja Vens da laranjeira ? Não sei. Vens de tal maneira, De branco vestida, Que, venhas donde for, Já sorri a vida Por se ver rendida Ao halo da cor.

Dia Internacional da Mulher

Não sei quem és, mulher do norte, Mas do Norte sou e a ti abraço No mesmo aço de força e resistência Que a obediência sevil é cobardia E treva e luto e noite. Ah, antes a ousadia da alma E a água incerta Do que o mar ao pé E a nau deserta.
No mundo me basta a natureza, A sombra do pinhal, a folha leve A brisa que abraça meus cabelos E a boca quente que se atreve A dizer a verdade

MILHAZES

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Quando eu era aquela menininha Que em botão começava a despontar Havia a aldeia toda minha E os campos que eu ouvia assobiar. Cantava o cântaro na fonte Cantava a fonte em versos desiguais Cantavam vozes femininas trigueirinhas E respondiam-lhes do céu as dos pardais Que linda era a terra e o gado e os pastos E as noites de rosas ao luar E as estrelas refulgentes de repasto E a voz do canário a namorar. Ah, como eu te amava, minha aldeia, De Abril a Setembro eras tu o paraíso E descobria presépios nas encostas E vislumbrava Jesus no meu sorriso. Como eu era quente lá por dentro Nas águas dos frescos ribeirinhos E em tudo onde meus olhos se lavavam... Onde foi isso? Onde fui eu? Dêem-me de novo o céu Um dia apenas... Uma hora... Um momento... Um pouco de paz e consoada Que eu preciso encontrar o encantamento Da menina que adormecia ao relento Ao som da sua fonte enamorada.

Saudade

Escrevo o meu poema Ao som de uma saudade Com esvoaçados cânticos Em pastos de ternura. Escrevo o meu poema com verdura Essa aveludada voz de verdes Em montes alegres irreais. Escrevo o meu poema e nada mais. Que hoje repouso A espada e a guerreira Para que seja madrigal Esta saudade à minha beira.