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O outono já lavou a cara  alagou os olhos e a sua verve faz tremer os muros. Não há como fechar a porta ao assombro do mundo. Os rios vertem lágrimas para o mar a chuva desespera de aflição as armas mutilam sonhos duplicados a crianças quebradas nos tenros galhos.  A cadência dos passos hesita entre a morte e o ódio freme o medo. Velho é o mundo e não sabes. Escrito em outubro de 2023, mas com alterações.   
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  Março é o mês ! Foi quando o tempo se fez , foi nele a água das águas e nele foram as dores , e foi o parto e o pranto que por dentro então se ouvia de uma luta sem tréguas ! Era a meio de um dia e farto foi o encanto , e o riso e as flores ! E, porque a vida reluz , foi a alegria materna num ninho feito de luz ! De março é o mesmo dia que a um passado conduz ! E à saudade fraterna de um outro tempo de outrora que é sinal de uma cruz mas que é já sem companhia neste que é o tempo de agora ! 18 . março . 2021
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JANELAR.... Quem me conhece sabe o quanto preciso de ver, olhar, sentir , tocar a natureza. Sou sensorial assumida. Gosto de observar a natureza de todos os cantos e de me surpreender pela beleza e pela seiva de força e de harmonia que transmite. Fico tempos infindos a sorver as cores, os matizados, os cheiros, as formas, os volumes, as imagens de luz, ora quentes ora sombrias, convidativas à divagação nostálgica, mas não depressiva. Tenho uma especial atração pelas janelas . Abrem-nos clareiras de versos, portas para o imaginário, pontes para a memória. Talvez por isso, sempre me fascinou a janela no Vale de Santarém, pretexto para Garrett costurar devaneios de um romantismo inocente. "Para mais realçar a beleza do quadro, vê-se por entre um claro das árvores a janela meio aberta de uma habitação antiga mas não dilapidada - com certo ar de conforto grosseiro, e carregada na cor pelo tempo e pelos vendavais do sul a que está exposta. A janela é larga e baixa; parec
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Ao jeito do coração a sonhar com os olhos teus andou sempre o meu olhar ai Jesus, valha-me Deus! Valha-me santa Maria senhora da devoção que os olhos andam cansados deste amor de perdição. E é tão verde o olhar dos campos cor de limão que Camões veio buscar os versos de inspiração.
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Não canto porque sonho. Canto porque és real. Canto o teu olhar maduro, teu sorriso puro, a tua graça animal. Canto porque sou homem. Se não cantasse seria mesmo bicho sadio embriagado na alegria da tua vinha sem vinho. Canto porque o amor apetece. Porque o feno amadurece nos teus braços deslumbrados. Porque o meu corpo estremece ao vê-los nus e suados. Eugénio de Andrade
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Do monte até à fonte Do ventre sagrado dos montes da mina de que venha, escorrendo por um sulco de terra húmida, molhada , por um chão de pedra rolada, lavada , lágrima constante, não gemendo , arrastando raizes e sementes não cuidando de saber quais são as gentes a quem mate a sede ou lave as frontes Mais abaixo irá depois chegar, pingando numa taça de pedra, e vai ficando calmamente, aguardando que pelo menos uma mão gentilmente a vá colhendo , e a sede de boca que houver que venha para a sorver e a louvar, bebendo. Aqui chama-se fonte, pois então, numa gruta ou num caramanchão com ares que lhe dão de monumento sem faltar a pedra da carranca com forma de uma deusa ou de uma fera e o friso de uma vinha ou de uma hera , mostrando lá pousada a pomba branca que recorde uma guerra ou um evento ! será de tragédia ou de glória o nome com que fica para a história de amantes e seus amores ou desam
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Orfeu fala a Eurídice Aproximo a minha mão da travesseira para dela levantar a tua nuca com meus olhos fito a tua boca flor de botão em tentação. Vermelho fica, pois, meu coração cacho maduro de macia cerejeira. Suave, o movimento do teu peito, tépido, o ardor do teu arfar, e teus lábios, carne viva de cereja, são doçura e paixão do mesmo jeito. Emerge, da tua fronte, o teu olhar e serves-me o amor numa bandeja! Descem à terra deuses de verdade laborando o amor que não morreu enrolado no tom verde da saudade vestes de pária, de andarilho,veste de Orfeu , e o teu peito recolhido junto ao meu é um mar imenso de paz e serenidade. (No inferno te busco, sendo céu nas labaredas ardemos tu e eu).