A pedido da minha "estrelinha irrequieta"...um belo texto!
Não sei quanto tempo me resta de vida. Nenhum de nós sabe ao certo e é bom que assim seja. Quando temos 20 anos, pensamos ter a eternidade terrena e ainda bem! Temos então forças e sonhos (ou pensamos ter!) para mudar o Mundo, torná-lo muito melhor, se possível no paraíso reencontrado.
Não há então montanha inacessível, obstáculo inultrapassável, desafio impossível. Já tive 20 anos. Era de aço, dizia o meu Pai, e tinha muitos sonhos. Foi lindo. Pensava que nascíamos todos puros, ingénuos e bons. Magnífica primavera com miragens idílicas: teria o meu hospital no mato tal Albert Schweitzer!
Hoje, perto de completar 56 anos, já não sou de aço, já não consigo ficar três dias sem dormir, sempre a trabalhar a olhar pelos meus doentes, como fazia nos hospitais de Bruxelas...Estou no Outono da vida e o Inverno vem a galope...Já não há eternidade terrena, já sonho menos, já só há efemeridade e bastante inquietude pelo estado do Mundo. Numa altura em que às vezes os filhos se afastam, estão no seu direito, em que a morte nos ceifa ou ameaça ceifar amigos, familiares próximos...as interrogações tiram-nos o sono... A nossa pequenez interpela-nos e ainda bem.
Vai-se alguma ingenuidade, fortalecem-se algumas certezas.
Assentadas as poeiras estéreis das vaidades, das importâncias e das ambições, só já a valsa das galáxias e o amor dos nossos entes mais queridos nos encantam. Já sabemos que não vamos endireitar o Mundo (de que enorme arrogância padecíamos!), mas sabemos algumas coisas. Sim, sei com a máxima certeza que vale a pena ainda continuar a viver e a lutar pelo Amor, pela Compaixão e pela Liberdade. Com Paixão. É indeclinável. Sem apelo.
Aos 55 anos, já tudo o resto é fútil, ilusão. Foi-se o aço mas ficou a certeza: não me acomodar com a insensibilidade, com a indiferença, com a falta de amor, de compaixão e de liberdade com que alguns nos querem prender...Envenenando-nos, envenenando-me.
Numa altura em que folhas secas já começaram a cair da minha árvore, levadas por um vento cada vez mais fresco, há meia dúzia de flores que se agarram ao meu tronco com a tenacidade da perenidade.
São as flores que me acompanharão até ao fim e que vos gostaria de oferecer neste final de ano com o desejo sincero de que elas se incorporem no vosso tronco e nunca vos abandonem, estejam onde estiverem e seja qual for a estação que estejam a viver.
Amor, compaixão, liberdade, sensibilidade, harmonia, tolerância. Vivam com elas, lutem por elas. Vale a pena. Eu vou fazê-lo. A AMI vai continuar a expandi-las. É em nome dessas flores que chamo filhos a todas as crianças do Mundo e amigos a todos os seres humanos. Já não consigo viver de outro modo.
É essa hoje a minha luta. É ela que me mantém ainda vivo.
Afinal ainda tenho sonhos...."
Não há então montanha inacessível, obstáculo inultrapassável, desafio impossível. Já tive 20 anos. Era de aço, dizia o meu Pai, e tinha muitos sonhos. Foi lindo. Pensava que nascíamos todos puros, ingénuos e bons. Magnífica primavera com miragens idílicas: teria o meu hospital no mato tal Albert Schweitzer!
Hoje, perto de completar 56 anos, já não sou de aço, já não consigo ficar três dias sem dormir, sempre a trabalhar a olhar pelos meus doentes, como fazia nos hospitais de Bruxelas...Estou no Outono da vida e o Inverno vem a galope...Já não há eternidade terrena, já sonho menos, já só há efemeridade e bastante inquietude pelo estado do Mundo. Numa altura em que às vezes os filhos se afastam, estão no seu direito, em que a morte nos ceifa ou ameaça ceifar amigos, familiares próximos...as interrogações tiram-nos o sono... A nossa pequenez interpela-nos e ainda bem.
Vai-se alguma ingenuidade, fortalecem-se algumas certezas.
Assentadas as poeiras estéreis das vaidades, das importâncias e das ambições, só já a valsa das galáxias e o amor dos nossos entes mais queridos nos encantam. Já sabemos que não vamos endireitar o Mundo (de que enorme arrogância padecíamos!), mas sabemos algumas coisas. Sim, sei com a máxima certeza que vale a pena ainda continuar a viver e a lutar pelo Amor, pela Compaixão e pela Liberdade. Com Paixão. É indeclinável. Sem apelo.
Aos 55 anos, já tudo o resto é fútil, ilusão. Foi-se o aço mas ficou a certeza: não me acomodar com a insensibilidade, com a indiferença, com a falta de amor, de compaixão e de liberdade com que alguns nos querem prender...Envenenando-nos, envenenando-me.
Numa altura em que folhas secas já começaram a cair da minha árvore, levadas por um vento cada vez mais fresco, há meia dúzia de flores que se agarram ao meu tronco com a tenacidade da perenidade.
São as flores que me acompanharão até ao fim e que vos gostaria de oferecer neste final de ano com o desejo sincero de que elas se incorporem no vosso tronco e nunca vos abandonem, estejam onde estiverem e seja qual for a estação que estejam a viver.
Amor, compaixão, liberdade, sensibilidade, harmonia, tolerância. Vivam com elas, lutem por elas. Vale a pena. Eu vou fazê-lo. A AMI vai continuar a expandi-las. É em nome dessas flores que chamo filhos a todas as crianças do Mundo e amigos a todos os seres humanos. Já não consigo viver de outro modo.
É essa hoje a minha luta. É ela que me mantém ainda vivo.
Afinal ainda tenho sonhos...."
FERNANDO DE LA VIETER NOBRE
Fundador e Presidente da Fundação AMI-Assistência Médica Internacional
Comentários
Das palavras belas que daqui se retiram,aos montes,vou «desviar» estas e guardá-las bem cá dentro de mim,porque traduzem o que eu sempre quis trazer comigo:«Viver e lutar pelo Amor,pela Compaixão e pela Liberdade. Com Paixão.»
«(...)Não me acomodar com a insensibilidade,com a indiferença,
com a falta de amor,de compaixão e de liberdade com que alguns nos querem prender...(...)É essa hoje a minha luta.Afinal ainda tenho sonhos...»
Às vezes,quando me ponho a pensar,
fico com uma vontade incontrolável de querer correr mundo,ir ao encontro das ONG,chegar e dizer:
-Estou aqui,venho dar o meu auxílio
e um pouco de mim a quem não sabe,por exemplo,que o sol,quando nasce,é para todos!Que a vida,apesar dos pesares,ainda nos pode agradar,alimentar,acariciar.
Agradeço todos os dias o ter "uma estrelinha, também ela, irrequieta".
Ah Guanabara, quanta garra aí dentro!De que signo é?
Descaindo sobre o meu leito sonhador, permito-me então pintar um céu de azul a pairar num verde-mar. Ah! Afinal encontramo-nos tão perto do fim como do início… somos eternos na nossa essência de alimento, no nosso ser social. Vivemos em cada segundo que tornamos nosso e que desenhamos nos outros. Deixamos de ser inteiros ao “primeiro dia”, no segundo em que personificamos o fruto e passamos a ser alimento. No momento em que, ao abrir os olhos ao mundo, partilhamos. A eternidade de cada um está nessa partilha. Como gota de água que ciclicamente gera vida, não nos perdemos. Oferecemos ao que nos rodeia parte de nós para que nos molde, nos faça crescer… nos partilhe. Um sonho… talvez. Refúgio de quem vê na simplicidade da flor um bem maior. De quem ama demais a vida para perdoar os segundos perdidos em burocracias(palavra azeda, nódoa literária).
Talvez no fim só restem as memórias… do que fui (e já não sou), de onde vim( e jamais regressarei) e para onde caminho ( e esse sim, é eterno). Mas, acima de tudo, restarão as memórias dos que me foram e de onde vieram, dos que viveram em mim e através de mim viverão nos frutos das estações no horizonte.
Sou amante da palavra como aquele que ama sem saber o que ama nem porque ama…
Escrevo, bem ou mal, porque sou livre de o fazer, manual ou mentalmente.
Longe de ser algo que orgulhe, escrevo porque acredito que o mal do mundo é haver esta falta de expressão que justificamos com a ausência de dom ou oportunidade. Porque a saudade é um bem maior e a memória todo o tesouro.
Para a flor que me acordou para o sonho que é a realidade das coisas simples, nostálgicas e belas. Que é eterna em mim nas palavras e emoções, na musicalidade dos gestos...no olhar…; e que, sem consciente intenção, me encontrei a adoptar para a idealizar na poesia das cores versificadas.
O mais sincero obrigado,na mais pura das emoções. A desculpa profunda do reconhecimento que tarda, não por não ser desejado mas por ser jamais à altura do verdadeiro sentimento.
Ficando sempre algo por dizer… pois nunca achei em mim as palavras suficientes.
Um para sempre,
Ana Rita Vaz Cruz
Foi toda a leveza da ave e a poesia do seu canto que eu vi na tua prosa da mais pura poesia.
Que bela metáfora linda!
Sinto muito a tua falta e só me consola o saber que me guardas"aí"com tanto carinho.Mas sinto uma mágoa enorme por não ser eu a ensinar-te Fernando Pessoa,da forma como o sinto e vejo.Não me devias ter feito essa maldade!
Mas estás perdoada, não pelo que dizes de mim,mas pelos frutos da tua árvore que apetece comer.
Adoro-te, flor de mim...
Eu quis dizer:-que bela metáfora, menina LINDA!O recheio e a moldura.
Quando puderes, vem espreitar brir esta janela e contar-me coisas de ti.
Beijiiiiinhos! :)
Estou noutro espaço e noutra dimensão temporal em que a alma se liberta da ferrugem corrosiva da alma.
Está-se bem aqui,despida do corpo e com o espírito cheio daquela leveza que sempre busquei.
Estou mais calma, depois que todas
"as folhas da minha árvore" se desprenderam do tronco.
Vejo que tens estado sempre comigo e com os anjos que te enviei. Tinham chegado há pouco de Roma.
Como a minha Belinha "desabrochou"!
E que forma maravilhosa ela arranjou para eu poder falar contigo.
Amanhã quero que vás "cheia de graça"e que confies na tua estrela que está aqui mesmo ao meu lado.
Diz ao Filipe que tenho espiritualizado com a mãe dele e que ela está radiante por ele ter comprrendido que o destino que escolheu o vai fazer estar mais perto dela.
Confia na tua avô . Alguma vez te desiludi?
Beijinhos.
PS:A Catarina não está esquecida.
A "estrelinha" faz muito bem em ser "irrequieta" e humana.
Obrigada por "me ter enviado" para este belíssimo texto.
Beijinho