FELIZ DIA, MÃE!


Querida mãe
Ainda continuam as saudades e os soluços sufocados no travesseiro na hora de dormir.
Fazem- se de fontes as águas dos meus olhos quando te escuto os passos.Ouço no corredor o teu andar miudinho, a entrar de veludo no quarto da Ana para não a perturbares nos estudos. O eco da tua voz sacode-me no arfar da noite e as estrelas apagam-se nesse mistério de silêncio em que tudo fala de ti e nada dizes. Ou és tu que escreves nestas mãos saudosas?

Sabes, fui a Milhazes à tua escola e à procura das Britos. Lá estavam elas, entradotas, a abraçarem a tua belinha e gastámos o tempo a falar do passado como necessitadas de pão. Fui ao Eirogo à procura daquele paraíso onde o pai era a "estrela da companhia". Só silêncio e ruína, mas a mesma sensação de afago e de fogo. Bonito o Eirogo! Passeei no silêncio dessas cinzas e sentei-me contigo naquela nossa árvore. Recordas como te chamei com palavras magoadas? O tempo chegou a parar. Ficar ali para sempre!
Outros têm partido. Fui a Barcelos ao funeral da prima Rosália e do Carlos Vinagre. Os olhos claros e cheios de vida do Carlos também se apagaram . Como os do pai.
Hoje é mais um dia da mãe e não sei se haverá comerações desse lado onde a luz é mais clara.
Estás em paz? Se ao menos me pudesses responder a esta inquietação lancinante para me aquietares. Preciso de ti. Ainda preciso de ti. Cada vez mais preciso de te nomear, ave alva da minha existência! Por perto voas. Sinto o cerco das tuas asas em círculos de conchas. Fecha-me dentro delas e chama-me tua filha. Serei sempre a tua pérola. Isso ainda oiço.
Obrigada, mãe, pelas tuas mãos cansadas de orações nos murmúrios de terços.
Recebe as minhas lágrimas. Não fiques triste. O amor é assim. Esta melopeia de prantos nos desencontros da vida.Mas tem encantos. E foste tu que ma ensinaste.

Comentários

Mar de Bem disse…
Ai, Lia, como te consomem as palavras...não as estendas ao infinito. Joga-as ao longe mas perto de ti. Não as procures de volta. Deixa-as ir. Não vás atrás delas...
Beijos para ti, que és mãe e, de mansinho, também para tua Mãe, que bem merece, por ter tido tal filha e tal neta.
antónio joão disse…
Hoje faço silêncio para lhe enviar um grande abraço.
Lu disse…
Milhares de beijinhos professora.A sua mãe está em paz de certeza.
mar-ia disse…
Querida amiga
Este ano é o meu primeiro ano sem mãe, na mesma data em que há anos atrás o coração esgotado do meu pai se calou.
É um dia de sombras. Um dia de pensar.
Por detrás das nuvens, eu sei, e já vi muitas vezes quando o avião me leva para lá destas fronteiras da ilha, há luz.
O mais amiga, é o silêncio.
Nem fontes de água, nem voos de pássaros.
Um profundo e pesado silêncio na minha casa ou na outra, que respira pesadamente.
amigas da prof disse…
Feliz dia da mãe, para quem é uma professora- mãe.
Beijinhos
AC disse…
Sinto sempre uma enorme dificuldade em dizer algo quando o tema é a mãe. É como se tivéssemos que mergulhar muito fundo, entrando num patamar em que a reacção química está associada aos afectos.
Mas cada reacção tem o seu timing, e não posso deixar de ser sensível ao primeiro comentário deste post: "Ai, Lia, como te consomem as palavras...não as estendas ao infinito. Joga-as ao longe mas perto de ti. Não as procures de volta. Deixa-as ir. Não vás atrás delas..."
Um Feliz Dia!
Anónimo disse…
Não existe quem não entenda as palavras doridas, pela ausência mãe. Afinal todos temos MÃE - a nossa, a mais querida, a mais terna, a mais atenciosa, a mais carinhosa, a mais protectora, a mais tudo, pois é a NOSSA.
Concha da nossa vida, a que voltamos, irremediavelmente, SEMPRE, à procura da palavra certa, do aconchego que só ELA nos sabe proporcionar...
Feliz dia da Mãe, a todas as Mães, pérolas nas nossas vidas.

Beijinho muito terno

Francisca e Mafalda, que adoram a sua Mãe.
Anónimo disse…
A falta que uma mãe faz! Como entendo essa saudade. E nunca se esquece. Beijinho, Ibel

Alda
Unknown disse…
Sempre que venho ao seu blog sinto uma grande paz. Sente-se um sentimento muito profundo de saudade e amor. A sua mãe gostaria de ver estes textos. Quem sabe...
gracinda disse…
Que prosa tão poética,Ibel!Sabes como sou de lágrimas e ainda a leitura estava a meio e já corriam. Pelas tuas palavras e pela saudade dos meus queridos pais.Sorte a nossa em termos filhos em quem concentramos os afectos filiais que outros não há iguais. A tua descrição dos passos da tua mãe são de um realismo estremecedor.Vi-a,esscutei-a, sentia-a também ao pé de mim como tantas vezes aconteceu.Para ela também a minha saudade e diz-lhe que eu tmo conta da belinha, como ela pedia.Por isso porta-te bem belinha...
Mana cinda
Unknown disse…
Que bem se escreve e que bem se ama por aqui.
Espero que tenta tido um bom dia da mãe.
Bjs.
Anónimo disse…
Olá Bela. Eu sei como tudo o que escreves é sentido.A tua mãe era uma Mulher Grande e muito bondosa, amiga de ajudar toda a gente.O teu pai era na verdade a "estrela da companhia", como tu. Herdaste deles o que havia de melhor em cada um. Tenho muitas saudades desse passado.

Beijinhos.
Judite disse…
Sempre que fala na sua mãe, ficam-se-me as lágrimas embargadas porque sou testemunha desse vosso amor maravilhoso. Tenho tanta pena que ela não possa ler o que escreve, embora ela soubesse bem a generosidade do coração da filha.Ainda me lembro quando fui a sua casa estava ela em recuperação e disse isso mesmo.
Beijinho
Isabel disse…
De certeza que a MÃE nesse local, onde o ar é mais transparente, ficou feliz com este texto revelador da persistência da memória e do Amor.
bjinhos

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