FELIZ ANO NOVO
Vem mais um ano. Ele aí está, desejoso de entrar, desejoso de que ergamos as taças de champanhe para brindar a sua chegada. Vem sorrateiro, vem de mansinho, vem em passo de dança, até que a hora fenestral chegue, a contagem dos minutes asfixie, a dos segundos agonize e ele, triunfante, possa entrar. O actor entra. Ele é o protagonista da cena toda pejada de luzes, das mesas a abarrotar de iguarias, dos vinhos régios a adoçar os canais por onde desce, das rolhas que estoiram em frenesi de excitação, das luzes que piscam num arraial de euforia, obrigatoriamente contentes, dos foguetes que se atropelam em gritaria, de braços para o ar e para a imensidão da esfera celeste. O actor entra triunfante por entre aplausos, mal o pano se abre e a cena começa. Ninguém sabe qual o papel que ele escolheu para os actores com quem vai contracenar, mas todos os que têm saúde, juventude e a digestão preenchida, sorriem perfumados, lindos nos seus fatos de luxo, nas sedas que luzem entre decotes atrevido...