Às vezes julgo- me marinha. Há em mim um apelo de mar como se tivesse nascido de uma onda. Sofro dessa ausência de azul esfumado preso às rochas. Ao entardecer, o mar traz mil vozes de gaivotas, ondas baixinhas e balbuciantes com transparência de cristal E o cheiro a maresia numa densidada concentrada. É o concreto perfeito. É a imanência soletrada em voos da alma.  É a hora da carnal unidade. O sol em golfadas laranja nas dobras do ar. Uma estética de beleza impoluta. A medição do belo maturada de matizes acrobáticos.
O mar rima com quase tudo o que respinga a rumores de sal. E quando o azul é aberto não é semelhante a nada. O seu corpo diáfano é o esplendor esculpido na idealização dos olhos.
Muitas vezes fiquei sozinha nesse mistério de areal à beira do exílio. 
Nunca me senti tão lavada. Nasci em Terra, mas fui menina de mar e jovem de mar , antes de ser esta mullher a cheirar a algas. 
Alguém me esculpiu para sempre nesse mundo. E um deus tomou -me os olhos para não mos devolver.
Vivo aí numa pureza infinita. Há quem lhe chame ternura.

Tanto faz. É tudo paz. É todo o mar que me habita.

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