Só falo da minha vida,
|
umas vezes divertida
|
e muitas outras sofrida.
|
Foram verbos, são estados
|
cruzados e resgatados
|
noutros tempos relatados
|
desejos que foram passados
|
modos vários conjugados.
|
O tempo e o modo, ligados,
|
também os há separados.
|
É o tempo, é o modo,
|
é grandeza ou pequenez,
|
a ambos eu me acomodo
|
cada um de sua vez .
|
O tempo é ponto marcante,
|
instantes em sucessão .
|
Já o modo é de um instante .
|
Há o tempo sem ter modo,
|
por um nada acontecido,
|
e há vários tempos de um todo
|
conforme o sucedido,
|
uns certeza, outros futuro,
|
de um passado seguro
|
ou de um querer condicional,
|
são os modos de um só tempo
|
do que seja cada qual .
|
Há passado certamente
|
mas não sei se há presente.
|
Se é que o presente existe
|
quando o for já é passado.
|
Quando não for contratempo,
|
ou apenas passatempo,
|
tempo futuro não há
|
que dele só haverá
|
o futuro do presente
|
que é já futuro mudado .
|
Futuro, o zero do tempo,
|
é um tempo hesitante
|
em mutação constante,
|
mudando sempre com a gente
|
mudando constantemente!
|
É um passado do futuro
|
é passado de si próprio
|
tendo assim um nome impróprio!
|
O tempo é, pois, só passado !
|
Não há nenhum tempo esperado
|
do presente ou do futuro
|
é um passado somente !
|
ESTIO À BEIRA-FRIO
Sinto no frio da água E no outono da folha O Inverno ch egado. Um certo desalento Um certo desagrado E uma paixão no mesmo assento. Porque será ? É agora o tempo Do crepitar da brasa E do silêncio recolhido No calor do livro. É tempo de carpir E de despir a árvore A folha desbotada. Mas se é lisa a fêmea vegetal Cobre-se de folhagem O chão E a fria paisagem Esquenta a emoção Da miríade miragem. O vento geme nos beirais E dos confins do céu Não há sinais de asas. A chuva é cântaro Mas crepita o lume E a mão espevita Lascivamente o livro. A página levanta a saia Num sorriso de catraia E faz-se estio à beira-frio.
Comentários