Noite !
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Oh, a noite !
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Gosto da noite, do escuro .
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A sós !
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Vê-se com mais nitidez
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o que está dentro de nós !
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Nenhuma luz nos afeta
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nem ruido há que se meta
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nos nossos olhos cerrados ,
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estando para cá desse muro
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que é a luz exterior,
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que nos ponha inebriados
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e nos tire a lucidez !
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Por isso gosto do preto
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que o preto é a ausência da cor .
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No escuro vejo melhor
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nele tudo é mais secreto
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e até esconde a dor .
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Essa escura mansidão
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de uma noite calma
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em que refaça a alma
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numa alegre solidão
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ESTIO À BEIRA-FRIO
Sinto no frio da água E no outono da folha O Inverno ch egado. Um certo desalento Um certo desagrado E uma paixão no mesmo assento. Porque será ? É agora o tempo Do crepitar da brasa E do silêncio recolhido No calor do livro. É tempo de carpir E de despir a árvore A folha desbotada. Mas se é lisa a fêmea vegetal Cobre-se de folhagem O chão E a fria paisagem Esquenta a emoção Da miríade miragem. O vento geme nos beirais E dos confins do céu Não há sinais de asas. A chuva é cântaro Mas crepita o lume E a mão espevita Lascivamente o livro. A página levanta a saia Num sorriso de catraia E faz-se estio à beira-frio.
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