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A mostrar mensagens de novembro, 2008

LIVRO D' ÁGUA

Há um livro onde me lavo de brancura e de beleza com páginas imaculadas de asas de alta leveza. Há um livro cuja água é onda branca inquieta que não pára não descansa mas repousa às vezes mansa num voo de borboleta. Há um livro onde se deitam meus olhos amargurados e logo ficam lavados de espanto deslumbrados e claros de pureza. Este livro não é fácil de leitura ali ao pé mas basta virar a página para ver na sua aragem a limpeza que há na margem em doçura de maré.

Meu tempo de Natal

Imagem
Era no tempo em que havia pai natal que eu existia puro dia tão leve como a noite que crescia no sapatinho inocente no fogão do meu passado na árvore com estrelinhas e nas luzes que piscavam no pinheirinho enfeitado com lume do coração e anjos quase reais que comigo adormeciam a sonhar com pais natais. Era no tempo dos meus pais com a toalha de linho tão branca quase de neve tão pura como o menino que nas palhinhas deitado dormia tão sossegado junto à vaca e ao burrinho e no olhar de sua mãe (como a minha ela maria!) atenta e cheia de graça adorando enternecida a sua obra divina. Era no tempo em que havia pai natal que nada em mim se partia e tudo me estremecia numa doce avé-maria junto ao presépio encantado em que eu era a cinderela com um sapato à espera no fogão do meu passado.

Sonho nupcial

Ai se eu pudera Ser outra vez primavera Com a boca à tua espera Com rosas rubras de orvalho E fonte de água ao luar No lume do teu olhar! Ai meu amor tão eterno De pérolas e de rubis Esmeraldas que eu te dera Se eu fora primavera Na água pura a escorrer Do alto da minha serra! Mas a noite vem caindo Aos poucos em pé de dança E fica longe a lembrança Do tempo que foi e era O meu corpo a Primavera Serenata à tua espera Cabo da Boa esperança!

VERDADE VEGETAL

Seremos o sol do nosso dia, Depois da dor atormentada, Dor vagabunda e traiçoeira, Sem jeito ou maneira De ser pousada Onde o corpo arda. Seremos tantos quantas as vontades De querer mostrar às gentes Que a humilhação nos desmanda Mas que a força que nos comanda É a bússola que segue em frente. Ah, seremos como a torga Que o poeta quis ser, Músculo vegetal, junto à raiz do chão, Verdade de nascer e de morrer.