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A mostrar mensagens de fevereiro, 2020
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Virá o dia em que o verso deixará de ser escrito a palavra ficará como herança para outras vozes ou para o nada a outra voz silenciada. O poeta não deixou de si a vida mas a curta emoção do tempo na breve respiração do mundo.
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Regresso ao silêncio, depois do ruído. O meu corpo compreende  melhor este deserto palpável do sossego.  Outro silêncio do dia. A minha neta de seis meses a adormecer nos meus braços em rodopio de pés com as vozes de António Zambujo e Miguel Araújo.  O embalo é a casa da felicidade. Assim foi o meu sem ter dele memória. Uma brisa que passou mas foi.  A minha mãe contou-me. Cantou-ma ao meu ouvido. 

Camões e as baixas gentes

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Contrariamente à maior parte dos poetas do Renascimento, Camões não abandonou a métrica tradicional. Ao longo da vida, foi conjugando com mestria a medida nova com a medida velha, numa soberania poética que atinge o auge n' Os Lusíadas. Camões assumiu   , pensou, meditou , "numa mão a espada e noutra a pena", toda uma herança civilizacional que transpôs para páginas poéticas onde fala das contradições e experiências vividas na pele.  Enciclopédico, o seu saber da altura equivale à cultura da globalização.  Os Lusíadas são o supremo saber. A Bíblia,  as epopeias antigas, a literatura de viagens, a mitologia, a astronomia , a astrologia,  as crónicas nacionais, os poetas ibéricos e italianos, os filósofos Greco- Romanos nada escapa  nesse monumento literário. Toda a obra é marcada  pela reflexão sobre temas intemporais: o destino, o desconcerto do mundo, a mudança, a natureza e a áurea mediania, felicidade que o poeta nunca encontrou. Enredado pelo coração e pelas
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quando for menina não quero sonhar  crescer apenas sonhar palavras onde sejas sem te ver distância perto de nós.
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«Entre o sono e o sonho»...  Uma luz vadia percorre as águas da arcada.  Verdes são os olhos mesmo na noite. .
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Deixo as mãos na soleira da porta para que não as pises.Só isso me sobrou do que fui de ternura e preciso das mãos para folhear os livros que te escrevi espalhados sobre a casa. As mãos dizem do coração e foi com elas que segurei a tua felicidade enquanto a chuva vidrenta me alagava os olhos. Anda uma rosa a desfolhar-se na friagem molhada e só os picos lhe falam do que restou da juventude. Nenhum gorjeio clareia o tronco da  cerejeira nua e neste tempo de morrer uma canção obituária diz-me que não serei eu a fechar-te os olhos no dia de todos os silêncios.
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a noite serena. vagueio pelo sono. é de saudade a casa que percorre a voz.
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nem coisas mundanas nem baixezas. noite e silêncio que o sol corre nas mãos. 
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Nos degraus da inquietude uma mulher canta traz a casa nos pulsos doridos o cansaço dos filhos  a exigir roupas e pão as asas paradas  e o lume por acender. Canta a morte  no dinheiro contado que não estica no frio das frinchas esquinadas pelo sopro do vento e pelas vielas da fome. Nos degraus da inquietude uma mulher canta e ninguém ouve a sua voz decepada desde que o mundo acordou há biliões e biliões de anos. É sempre a mesma mãe que canta. A mesma mulher nos degraus da inquietude envolta na solidão. Estou a ouvi-la no meu conforto e ela não me vê. Para que quer ela olhos e eu ouvidos?
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Há quem diga que os poemas nascem das roseiras; há quem diga que navegam rios dentro das palavras; há quem diga que nada se pode contra o tempo e que as palavras já não encontram substância onde navegar.  Adicionar legenda Eu digo que o poema nasce sempre de quem sabe a revelação da beleza e deixa que os olhos sirvam a contemplação.
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Uma pauta de água modelando o tempo. Tanto tempo quanto o coração. E na vertigem do sol, no aceno da luz, só o que as palavras não dizem.
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A poesia tradicional tem raízes perduráveis e caminhos que levam às romarias.  Embora os novos registos poéticos sejam sempre louváveis, para que não se negue o imaginário, volta-se à redondilha, como quem vai à fonte encher de água ancestral o cântaro. E não se quebra o vaso. Pelo contrário, as sílabas estremecem de graça e os ouvidos abrem-se para a leveza do canto. Na redondilha espraiam-se todos os orvalhos. A menina que vai lavar cabelos ao romper da alba, a que chora de ausências, a que dança debaixo da avelaneira florida ou reza na ermida. É na medida velha que o nosso Camões tece loas à beleza ou se desencanta com o desconcerto do mundo que, só para ele, anda concertado. A redondilha serve a música como nenhuma outra métrica e para todo o tipo de pano. Da chita à seda, da sedução à sárira, do baixo ou elevado louvor, do riso ao choro, ei-la a registar emoções que perduram e ressoam numa emblemática cadência que comove a vida .  Senhora, partem tão tristes meus olh
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Há um vazio no bosque um fruto desprendido do pomar um relógio estagnado na corrente das horas um pássaro andarilho no alto dum navio. Soltou-se das amarras e foi bordar de beijos outro mastro.
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Tarda a festa do sol. Cada coisa a seu tempo. É preciso escutar o uivar do vento nos lamentos das árvores. Sentir o odor da roupa molhada quando a chuva a desanca. ______________________________________________ Mas todo o inverno é triste para os olhos. Anda devagar como um sonho sonolento. Só a música acende a viuvez da noite Nascem-me pés para descobrir o voo na sala deserta. Renasce o que estava a morrer. Ilha de emoções os meus rodopios de gaivota acordada Mas assustada. ____________________________________________ Adormeço todas as noites com o coração a crescer Acordo todas as manhãs com um sonho descalço E é sempre um mar a chamar-me num eco de loucura.
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Não sei dizer do silêncio.A noite fechou-se e ainda nem tínhamos calado os olhos . Sem dar por nada já não nos ouvíamos.  TU?   Galho de outra ave.
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Deixo um beijo em teu regaço pois não o queres no teu peito mas fica-me este embaraço ... de não to dar ao meu jeito.

Gerês

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Passei os olhos no Gerês, quarenta e oito horas e. Um fim de semana, refrescando os olhos nas águas e trepando-os aos montes, quase a cair nos fantásticos desníveis de montanha, oscilando entre o sol e a sombra. Línguas de areia branca bordando o azul e barcos preguiçosos na volúpia do silêncio. Casas em presépio quase natalício, não fora o calor. Ao longe, a ponte iluminada. A noite. A ponte! Um ... deslumbre de ecos de luzes auríficas, até à profundidade nua do rio. Um assombro mordido de espanto. Na manhã seguinte, a festa do S. Cristóvão. Ruído com Quim Barreiros, e outros cantores provocatórios, numa comemoração religiosa, alternando com vozes de mulheres esganiçadas como cadelas com cio. Depois, uma voz dormente de abade queirosiano, à hora da missa, vinda do altifalante, ressoando perto da videira que espreita a varanda. Por fim, Marco Paulo e a sua "Nossa Senhora". Ai, valha-me Deus! E não é que me soube tudo a bom, a uma ruralidade esquecida na arrecadação das

fado

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Viver em Braga com Rodrigo Leão! Braga a abarrotar o Theatro Circo. Este no seu esplendor. Filas de gente que se vão sentando. Acenos de mãos e de cabeça. Os lustres fúlgidos num escândalo de brilhos sem crise. Silêncio. - É favor desliga ... rem os telemóveis. Não é permitido fotografar- . Ilumina-se de luzes ténues o palco. Os instrumentos exibem-se silenciosos. Primeiro Rodrigo Leão e logo os outros músicos. Abre-se o passaporte para a magia gutural dos instrumentos. O mundo desagua ali no palco, com acordes cromáticos aveludados.. Falam de saudade, de amor nostálgico. Ao virar da música, um outro estilo, um diálogo entre dois violinos. Depois monólogo de violoncelo. E já conversa entre todos. Estilos vários. Alguns arabescos. Um acordeão e Paris. Uma rosa no cabelo vermelha. Podia ser Edith Piaf…Talvez ali o Quartier Latin, Montmartre...Um desfilar de mundos.O fado e o Tejo na maresia do piano. E outros rios sigilosos domados com rasgo. De repente, o tango, na voz de A
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Solto-me pelo lado da rebentação das ondas. O areal acolhe o silêncio dos meus passos. Há redes de peixes trazidas pelos barcos e o musgo das algas adormecidas na praia. Sento-me na almofada da areia a riscar o teu nome e é como se lentamente ecoasse um chamamento a que não acodes. Faz-se noite nos lamentos e agora as marés fazem novelos de espuma nos meus pés mas as águas levam-me a tua voz e a minha vai-se perdendo sobre as dunas que o vento castiga devagar ao cair do escuro. a A tua voz! 

Dia da mãe

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Pediste-nos no leito da sombra para rezar por ti. já mal falavas.   mas ainda rezaste baixinho um padre nosso com as tuas filhas na véspera de todos os adeuses. eu rezo, mãe, mas só tenho a tua fé e o terço tem as contas do nosso amor que construímos com arrelias e beijos durante muito tempo. mas rezo. e cheia de graça me vens tu e o teu rosto de maria da terra e do meu céu onde a toda hora te falo enquanto à noite deito as lágrimas na travesseira para acudir à saudade que rói e me agasta. estou aqui ao pé do teu dia que tanto prezavas para te dizer que abençoada és tu entre as mulheres e se o teu fruto sou, eu vindo de ti seja eu a pálida latitude dos teus gestos.
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Pinhal de Leiria morto o pinhal, morto o rei, mortas as naus, mortos os sonhos que plantámos noutros cais, mortas as aves na vertigem da altura, que sopro nos trará novos beirais ? ai flores, ai flores do verde pino, chorai, como as filhas do Mondego, a morte escura. ide dizer ao rei que do milagre nem as rosas se salvaram da santa esposa, que Leiria é um cemitério, um deserto de cinzas, e que bicos ardidos, não gorjeiam de azul na imensidão dos céus cinzentos ai meu Portugal , meu berço de três sílabas a murchar, que me dirás das quinas que encimaste em todo o Ma r ?

Deixa a porta aberta

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Deixa a porta aberta. O sol está macio e luminoso consubstancial à harmonia. Abre-te para a reconciliação com a terra que é generosa e acolhe-te. Os meus lábios são cerejas rubras ( não vês? ) e há fruto outros por colher  no pomar. Os cães ladram à porta das quintas. É primavera  e o verão não tarda. Um ramalhete de pássaros chilreia nas varandas e tudo é verde na minha voz no colo da noite.

Requiem por Palmira

Palmira geme no ventre. A terra agoniza debaixo das lágrimas. Os filhos da treva . domadores do ódio cavalgam às cegas derrubam o Tempo sepultam os deuses ressuscitam a morte em patamares onde claridade era o nome das mães a vestirem os filhos de risos. O pastor suspende a flauta lá também e os bosques silenciosos não nos pedem sílabas piedosas nem misericórdia nem pão. Palmira é uma mulher despida imensamente morta às portas do Templo e os vendilhões não vergam joelhos.
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Passou tão depressa o tempo o tempo que por nós passou que nos sobrou desse tempo a saudade duma ausência que o tempo nos roubou. Passou por nós tanta vida tantos sonhos nos beirais que as asas que subimos pena a pena as despismos em voos diagonais. Ah como o tempo magoa a saudade feita em ais a chorar nos corredores um amor de vendavais..
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Deveria ser obrigatório ver nascer o dia pelo menos de tempos a tempos. Hoje resolvi ficar a corrigir testes e esperar que a luz vá crescendo. É indescritível esta dilatação da luminosidade saída do escuro, enquanto os candeeiros se apagam e os pássaros se atiram em gritaria para os espaços.  Lembrei-me da voz sibilina de Sophia" Sei que seria possível construir a forma justa de uma cidade humana fiel à harmonia do universo". É já quase manhã esta maravilha. Vou subir aos pássaros. Olha! Amanheceu. "Vou com as asas"

Do alto da minha idade

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Do alto da minha idade escrevo um poema com sessenta e quatro retalhos de tempo atiro os olhos para o sol que rasga a minha janela e a claridade é igual à do terraço da minha infância onde os pássaros cantavam em bicos de arco-íris ... cantigas de amor no alto da minha cabeça cheia de chão. Do alto da minha idade a luz ainda é clara na transparência da água onde me lavo da inquietação dos dias e onde os pássaros teimam nos ramos cantando em bicos de asas -saudosa me ando eu-
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no miolo da noite o sono tarda pela ribeira do tempo vêm memórias de águas um navio atravessa o coração em frente ao rio ontem ou hoje o tempo é ponte para outras margens.
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Se eu soubesse dizendo as almas que há em mim não tinha as penas que sinto ... mas só as que julgo e minto por ser um rio sem fim. Às vezes sou viajante por terras de sonho e ar outras vezes lodo e charco náufrago dentro dum barco perdido no alto mar Sou flor se não me penso sorrindo dentro de mim num recanto de saudade alegre por ser verdade e ser eu esse jardim. Mas nada sou que me dê contentamento de ser o que na alma me passa e fico triste na graça e fico sem me saber.

APELO

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Vem, se puderes Trazer um cheirinho Do Choupal até à Lapa, Minha Coimbra menina, Saudosa no adeus E na canção. E traz também O passado nesse fado, Manhã de mim, Ardor de flor, Na cor e odor. Vem e traz a guitarra Do penedo enamorada E os beijos em segredo, E o Mondego E a loucura deslumbrada. Vem e não demores Que a pressa é já A de ser ontem: Luz macia Sol manteiga Maria eu Ou Alegria.

Parabéns, Estrela-Mãe!

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Hoje, a minha mãe, estrela deste blog, faz anos. Uma vez mais, entro, de mansinho, nesta sua "casa", para a encher de mimos virtuais, enquanto não chego a Braga para a encher de mimos reais... Beijos ternos da tua "estrelinha"!