Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2020
Imagem
Trilando dançando voando nos ramos das casas verdes ou no solário azul abençoadas sejam nos pinhais da terra e céu.
Imagem
Para que queria teus olhos e que faço agora aos meus?  os meus só tinham o brilho da luz que vinha dos teus. Para que quero os meus braços feitos foram para abraçar. Eram tantos os abraços que eu tinha para te dar! Para que quero os ouvidos se já só vou escutando o desfiar dos gemidos da minha alma voando? Para que quero os meus lábios prontos que estavam para amar? secos ficaram , murcharam soluçando como um mar.
Imagem
Ver o que acontece em Itália não deixa de me doer profundamente. Sinto-me herdeira direta dos romanos, novilatina de sangue e coração. Em época de Quaresma fiz uma viagem a Roma durante uma semana. Ainda hoje fico atordoada pela monumentalidade majestática carregada de memórias.  Molharam-se-me os olhos no Coliseu onde vi ressuscitados os gladiadores, as feras e os indefesos cristãos atirados para o circo, pátio de recreio dos instintos bárbaros que a humanidade persiste em exibir; extasiou-se-me o olhar com os templos, as estátuas, as pinturas; sobressaltei-me de alegria nas Praças de Navona, do Povo e de Espanha; colori-me de júbilo na Fontana de Trevi onde atirei uma moeda , pedi um desejo e prometi voltar;  calou-se-me o coração junto da Pietà, na Basílica de S. Pedro. Fiquei vidrada naquela imagem, num hipnotismo doloroso. O que eu via naquela escultura, para além da capacidade artística de quem a esculpiu, era o filho morto, um corpo adulto, numa atitude de deso
Imagem
Um dia vogarei como um navio sem o desassossego dos relógios inquietos numa estrada translúcida de um mar sem fim e o azul das águas e o branco da espuma serão reais por ser em mim. Um dia todo o infinito que na linha do horizonte se desenha -régua aveludada das cores da luz- irá fundir-se em mim como uma quilha da nau florida que no mar reluz. Um dia incerto será só a minha alma e meus olhos já sem ver que verão a cor exata e certa do dia inteiro que adivinho conhecer. Um dia serei eu a espuma pura e o infinito e o céu e o roxo e o mar e encontrarei meu paraíso eterno que na terra pude só adivinhar. ( poema para a minha mãe)
Imagem
Não há nenhum orvalho na noite. Na varanda respira-se o coração do silêncio. Tudo tão estranho! Um repouso excessivamente calado e os deuses escondidos num segredo intangível. Sei que estão na voz dos pássaros que gorjeiam oscilantes na árvore, quase rente aos afluentes do escuro. E penso em Deus neste universo parado. Um Deus substância e alimento. Não o Deus do medo que aprendi a temer na infância. Severo, castigador, carente de ouros e penitências. Aquele Deus que os homens inventaram à sua imagem e semelhança, para depois se fazerem à imagem e semelhança desse Deus. Penso num Deus como Verdade latejante a que virámos costas. Um Deus cuja inteligência não alcança e, por isso mesmo, é sol do amanhecer.  Penso em Espírito, com sílabas sem desterro, sílabas mansas a cair sobre a Terra à luz do calor ou do frio. Sempre o amei e a ele rezo a oração dos poemas que se demoram no coração, mas com pressa de correrem para o papel como pétalas de música. Reparto com Deus a alegria das
Imagem
Não queira amor pedir-me negação que dele viajante sou e cantadeira atravessei a estrada hasteando o cântico de amor como bandeira. Não queira dar-me amor o fogo posto da festa desordeira e sem candeia pois sou lume em brasa e a esturrar como lenha em casa de fogueira. Não queira amor pedir-me desistência que correnteza sou de força e aço como araucária de dura resistência. Amor será sempre o eterno mosto cujo vinho fermentado em mel de abraço escreve um poema em pleno agosto.
Imagem
Às vezes,o dia é feito com mãos que amassam. Odor a mãos de mãe, ao café da manhã, à azáfama da dia, à manteiga caseira, aos versos do pai num papel escondido debaixo do travesseiro. Pois então. Deitei mão à obra e resolvi experimentar o pão por mim amassado, mas com o pastorear da minha mãe sempre atenta, mesmo ali ao meu lado, em laços que nunca serão quebrados. E gostei da tarefa e dos versos que o pão faz, sabe-se lá como.  Gaba-te cesta, que  amanhã  vais à festa recitar : O Pão ? Sai à padeira ! Côdea trigueira, e miolo de primeira .
Imagem
Se eu perder a inspiração ou se a idade nos perder de nós haverá sempre uma ermida um pinhal, uma bonança no cimo da duna a olhar o mar. Haverá sempre as mãos as primeiras mãos de afago ondeadas de luz entre um fogo de beijo e outro fogo. Se eu morrer de inspiração será sempre teu o poema sobre uma folha perdida no livro da vida e a tua voz uma cantiga de verde rama como a verde rapariga que fui no alto da oliveira quando eras o mais lindo a dançar na minha leira. 23- 03-2020
Imagem
Chegou a primavera e Cupido desespera. Vai ter de adiar para o estio a hora de flechar seus dardos sobre as borboletas a florir nos jardins em chama. Coroa-te de heras, rejuvenescida princesa, e cobre de verde manto o que coberto foi de neve fria e converte em riso o triste canto Eleva os passos de mil danças, até ao éden de amor, e finge ser o que dantes era, a minha primavera. 23- 03-2020
Imagem
Podes correr todos os lugares do mundo abrir todas as janelas dos hotéis de luxo as varandas de arranha-céus de cinco estrelas tocares mesmo as estrelas e soltares exclamações de júbilo perante a tua proeza. Podes percorrer as cidades longínquas  amanheceres dentro delas  como quem bebe cálices de Moët & Chandon ou ainda entrares nas camas de seda  para acenderes sonhos diante dos espelhos mas, quando pelos teus pés, a idade sonâmbula te mostrar o mapa dos teus passos é a manhã da infância que chamas mesmo que não chames porque a voz é sempre a que cala o respirar de uma outra voz escondida num bolso  onde crescia  uma ave a tatear o sol.
Imagem
A luz brilha sobre a luz deuses desnudos acordam flores na manhã dourada Menina e moça a primavera alarmou cedo os vidros. Tremeluzem de loucura hastes brancas sobre as águas Vacilam as mãos e todo o meu corpo é sangue a pedir os teus olhos.
Imagem
Deve ter havido um tempo eu sei que houve o templo da natureza que nada nos pedia e a ela regressávamos em cada respirar intactos no rosto e na alegria. Embalados no prazer das conchas vivas indomáveis de terra e de arvoredos ouriços ressarcidos, não sonhávamos os punhos que sobre nós tombavam feridos de trevas e de medos. Deve ter havido um tempo eu sei que houve o templo da sagrada face das colinas no crepúsculo das tardes derradeiras quando o vento erguia a sua face no horizonte azul de bebedeiras. E de frente olhávamos o mar num fulgor vertical de harmonia. Quando? Não sei  mas que era, foi, disso estou certa que a alma sabe o rasto da espuma imaculada e da graça ou garça extasiada .
Imagem
"Quem vai e atravessa o rio" fica naquele deslumbre de quem chega onde nunca deixou de estar. Porque as terras são essencialmente sensoriais e com singularidades afetivas. As que andam a piscar-me ao coração sempre as senti desse modo.  Barcelos deveria ser barcela porque as águas e a ponte são liricamente femininas, apesar da imponência do castelo a namorá-las. E elas cantam-lhe versos para que não se sinta exilado . Como naquela história do urubu solitário, dizem provocadoras, b e happy!   Sabem todas as línguas as águas. Pascoaes diria de Barcela " Dá a surpresa de ser/ é alta de um loiro escuro". Ou talvez  dissesse morena, que é do norte, pela força do destino. Barcelos, terra de berço, da feira ( ai a feira!), do parque, do turismo encostado aos suspiros, da Festa das Cruzes, do fogo de artifício a estralejar sobre o romantismo do rio, dos tapetes do Senhor da Cruz, dos rojões da Bagoeira ou do polvo assado na brasa, do cabritinho..., Barcelos só
Imagem
 Ai se eu pudera  ser outra vez primavera  com a boca à tua espera  e rosas rubras de orvalho  com fonte de água ao luar  no lume do teu olhar! Ai meu amor tão eterno de pérolas e de rubis esmeraldas que eu te dera se eu fora primavera na água pura a escorrer do alto da minha serra! Mas a noite vem caindo aos poucos em pé de dança e fica longe a lembrança do tempo que foi e era o meu corpo a primavera serenata à tua espera Cabo da Boa esperança! Antes de Mim um Verso, Poética Edições
Imagem
Imagem
De repente entra no poema um verso triste são as dores que correm no silêncio e que não querem ter voz. Há que deixá-las correr  até ao mar onde desaguem e um espanador de mágoas as sacudam ou talvez um riso atrevido, um verso provocador. à beira de um jardim o meu amor foi feliz e tratei dele com desvelo. recriar o tempo é o segredo dos jardins ou da casa a olhar o rio e não desejar nada que fira  os seus olhos aquosos. uma rapariga também pode ser um lugar de água um vento a desarrumar tristezas. 
Imagem
Prometi nunca bater prometi ouvir prometi-me
Imagem
Liberdade Aqui nesta praia onde Não há nenhum vestígio de impureza, Aqui onde há somente Ondas tombando ininterruptamente, Puro espaço e lúcida unidade, Aqui o tempo apaixonadamente Encontra a própria liberdade. Sophia de Mello Breyner Andresen
Imagem
Não sei o que é ser só amo a nudez do silêncio mas sei do esparso espaço que nos falta quando a casa nos cerca e nos obriga à clausura forçada aos pesados golfos da distância a um exílio da natureza. Um diadema de ouro pousa sobre o mar num março envelhecido oscilando entre o fim de tarde e a noite está dentro dos meus olhos essa visão de luz a morder a carne. Entro nela como um barco jovem a morrer preguiçoso num rumor de beijo.  18-3-2020
Imagem
Seguro a vida enquanto posso com os sentidos despertos tateio a casa, os livros, os retratos aspiro os cheiros da rua  e dos catos inodoros  a vestir as varandas e por isso o cheiro é só meu e não sei como dizê-lo em verso ou fora dele. Olho ao pormenor a cor púrpura do poente ou a língua de fogo na nascente ouço os sons da vida a água a correr ou a cantar e tudo é claro e puro como uma criança ainda sem perguntas. Saboreio o paladar das luas gordas e das rubras ameixas como lume  e de sentido em sentido o que sei do mundo é cheio ou pleno e eu comigo.
Imagem
Procurem-me sempre onde haja um porto um olhar massacrado de alturas um pomar semeado de laranjas um mar a cavalgar brancuras. Procurem-me sempre onde houver um rio uma verdura a ornar um embondeiro um leito de rio a escorrer em fio  no arejo matiz do sol festeiro. Procurem-me sempre num moinho a moer canções ao mar aberto em mós de acorde afinadinho ao pôr-do- sol a descoberto. Procurem-me sempre onde sempre estive estirada na orla da manhã a roer a névoa em declive como quem rói um naco de maçã. Procurem-me sempre num bolero num corpo rodando em folho e chita e vereis vendaval de brasa em dança vendaval de corpo, eu tão bonita! 17-03-2020 .
Imagem
Rasuro nas paredes os ruídos da noite mas voltam como uivos de ensurdecer interrogo-me sobre a força da árvore que não tombou  fiel à perenidade da raiz. Ergue-se altiva como um fogo e incendeia os freios do tronco habitação inacabada. Um dia o som marítimo inundará as horas vazias e o vento há de dar as mãos à água, adoçando as marés num abraço de mistério para que o poema se escreva  do outro lado, se o houver.  16/ 03/ 2020
Imagem
Havemos de voltar à terra à luz coada do sol aos campos a cheirar a feno à embriaguez da beleza onde se pode morrer à poeira que o arado levanta à loucura do silêncio no ardor da tarde à tarefa das mãos a namorar as aves a beber os beijos Havemos de lá voltar.
Imagem
Não castigues o corpo na hora de deitar o sono escorrega devagarinho por um raio de sol que guardaste da janela do teu quarto quando eras uma flecha a arder e deixa-te levar no colo de Morfeu até onde puderes recuar na felicidade. Fica aí nesse tempo, demora-te nele enquanto houver lua cheia e uma valsa a ondear teus pés no chão da festa. Talvez te encontre num degrau do sonho que também guardei a lua e os teus braços, no mesmo chão  onde o ritmo do coração ventou  rodopiou valsou soletrou  a branca flor do coração na força da água. Talvez pegue no meu raio de sol ( a minha janela namorava a tua) e escorregue no teu sono mansamente sem te acordar e possamos valsar os passos do desencontro em passo acertado. 16/03/2020
Imagem
Precisei de Sophia. De a ler, de ir ao encontro do seu mar e das palavras misteriosas, à espera de um milagre que me levante o véu de nostalgia que me cobre. Vivo à procura de versos que distribuo à vida, às pessoas  que me cercam, versos ou palavras substantivas que consagrem a beleza, a amizade, a respiração do que é justo. Dialogo, portanto, com poetas, sem reservas, num êxtase de delírio. Com eles fico tempo infindo, adormeço com os seus livros, choro, emociono-me.  Não sei respirar sem palavras, mas é na poesia que descubro a minha interioridade mais profunda. Se não fugir da vulgaridade dos dias, não agarro o que me é essencial. Precisei de Sophia.  Para interpretar mágoas. Silêncios. Para que a transcendência não se evapore da minha alma peregrina. Reli o conto " Homero", construção simbólica da definição de poeta e de poesia. Homero, esse deus das palavras projetado no Búzio, personagem vagabunda, o louco escorraçado, depois de entoar a sua melopeia m
Imagem
 Estamos nas mãos  e não sentes o fôlego da ternura  a carícia pura da bússola  sobrevivente à tirania do tempo.  Escuta a minha voz   ouve o eco do coração  a arder na vertigem da pele.  Esquece a solidão e bebe o poema  que te ofereço de mãos suadas  com março de canto.  Entra nas palavras. colhe-as.  são para ti estas cerejas tardias  do pomar.  Derruba os muros e ouve  o cristalino fio das veias  que não perdeu densidade  no poço do mundo.  Escuta:  canto na noite o poema  e devolvo à claridade   a luz caída  ao sol poente.  
Imagem
  Sexta-feira, 13 de Março de 2020 Manhã ao meu gosto. Acordei cedo e deixei a preguiça tomar conta de mim. Tinha adormecido com  As Rosas de Granada  de Ahmed Ben Kassin, poeta árabe, identidade "roubada" pelo grande Daniel de Sá, para escrever belos poemas de amor que dedica a Maria Alice, sua mulher, a quem ternamente chama de Calie.  Adormeci com as rosas na mão e assim fiquei até de madrugada.  Regressei ao livro e retomei o sono. Acordei tarde. Um largo sol entrava pelo janela quando a abri. Uma luz transbordante a trazer-me a vadiagem dos olhos, um cheiro imaginário a mar, os dias quentes sobre as dunas, o levantar da névoa na Lagoa do Fogo, a frescura branca da ilha Graciosa,  uma brisa miudinha na praça, à noite, e os candeeiros  floridos como afluentes de sol.  E vadiei o dia todo dentro de tintas, flores, verdes, livros, preguiça e poesia. Em casa o dia todo e outros dias que se seguirão para cumprir a quarentena imposta por um inimigo invisível. O
Imagem
Escrever um nome como quem borda um tecido sem tropeçar nas linhas e bordá-lo com a sublime saudade do brilho visível. Bordá-lo a ouro e resgatá-lo da morte, tão de seda como o corpo da lua no campo do céu iluminado. Se regressasses, mãe, falava-te do esplendor do regresso e adormeceríamos de mãos em flor numa carícia palpável. A ti te contaria do tecido bordado e gostarias de ouvir como o bordei sem tropeçar nas linhas. Mas não desças à terra está doente e aprisionada com cor de dor e odor de  morte. Deixa-te estar serena a olhar por mim e pelos que amaste no esplendor dos dias e no lento rosto das noites. Talvez consigas ver o vestido que bordei para o meu amado, sem tropeçar nas linhas, e possas sorrir,  meu poema distante e aqui tão perto da saudade em flor com carícia palpável. Amar-te-ei até ao fim do musgo e prometo mostrar-te o lenço bordado com linhas de amor.
Imagem
Sol rima com quase tudo que gosto: mar, rio, ondas, verdura, madrugada, manhã, sorriso, canto, abraço, beijo, poema, duna, ilha, fruta, barco, mesa, sumo, peixe, ponte, paixão. Entra-se pelo verão dentro e estiram-se os olhos pelas noites quentes com brisas marinhas e luzes misteriosas. Às vezes, as noites parecem irreais, lugares de perfeição absoluta. Com clarões e sombra. Lembram os moinhos de Quixote, a tentar libertar Dulcineia das garras do dragão.  Os dias são longos e preguiçosos com  folhas para escrever ou não escrever. A luz do dia cega sobre o mar, com um azul difícil de decifrar, num milagre explosivo a libertar todo o mal do mundo. Mas fujo da confusão. Gosto do verão de junho, ainda a nascer, com as manhãs atravessadas de luzes douradas, límpidas, desatormentadas, manhãs como raparigas a costurar a maciez dos sonhos junto à boca da fonte. Ou outra boca. E gosto de todas as águas. Se o mar é paixão, o rio é devoção. Não morre e sabe amar as ped
Imagem
Absoluto silêncio. Absoluta necessidade de me encontrar com a noite, a maneira mais feliz de me encontrar. Massacrada pelas notícias, só me resta a música e este espaço, minha autonomia de liberdade. Se não respirar fora do caos, se não chapinhar nas palavras, não sei para que lado adormecer. Mas trago receios. O mundo é um vulcão a sangrar a toda a hora, uma metralhadora a cantar a canção da guerra, um corpo a desabar de dor. Na Síria e noutras Sírias, as crianças pedem para morrer e cava-se-lhes a cova no gelo. São os filhos dos outros que gostaria de aconchegar no meu amor.  Como é possível não amar os filhos dos outros? Tenho um coração onde cabem todas as crianças da Terra. Nunca me senti a amar tanto crianças que não conheço. E este desespero de as saber abertas à descoloração das noites, tão diferentes desta onde me escrevo. Anda um vírus à solta, sem olhos, sem boca, sem mãos, sem rosto, um hospedeiro turbulento à cata de hóspedes.  Uma enegrecida sombra sobre
Imagem
Palavra a palavra mede-se o mundo taco a taco palmo a palmo mede-se: o amor a vida e a morte quando vier essa vaga escurecer os sentidos. Mas, antes dela, as rosas e o que foi de fogo jubiloso num agrado de memória. Uma flecha atinge o coração e é para sempre uma praia  limpidamente ativa e concentrada o que o búzio traz de longe. Dançarei essa música  ondeada, consolo de sobrevivência, enquanto for do mundo um afago de verão num coração a arder. Depois irei numa fraga às cegas noutra estrada. O que danço ainda é meu.
Imagem
Amas-me sim até quando eternamente. mentes não. A eternidade é agora.
Imagem
O regresso por dentro do tempo é um lampião clareia tudo em círculos lúcidos como um pêndulo solar  que reaviva o que vingou da sede. Tem pés leves, passos mansos uma cantiga de amigo ao pé da fonte um mar de mosto sobre a boca como um pássaro que nos pega na mão e levanta voo colado aos nossos olhos no caminho  dos pinhais e outros rumos mais. O regresso é por vezes, a mão do indecifrável mistério, uma cascata de água a escorrer de seiva na fundura da noite ou na boca do dia um sussurro longínquo um murmúrio alado um chamamento uma canção a medir o que sobrou do coração.
Imagem
Não me olhes assim que me despertas um rio em sobressalto do passado em que o sol era um pássaro de asas leves com voos de orvalho apaixonado. Não me olhes assim dessa maneira desse jeito de música sonhada quando o verde do meu olhar escurecia pela tristeza da presença abandonada... Não me olhes assim que te mirei tanto, sem que o visses em segredo só para mim confessado que ainda hoje escrevo em letras de oiro o poema que ficou inacabado.