Não há nenhum orvalho na noite. Na varanda respira-se o coração do silêncio. Tudo tão estranho! Um repouso excessivamente calado e os deuses escondidos num segredo intangível. Sei que estão na voz dos pássaros que gorjeiam oscilantes na árvore, quase rente aos afluentes do escuro.

E penso em Deus neste universo parado. Um Deus substância e alimento. Não o Deus do medo que aprendi a temer na infância. Severo, castigador, carente de ouros e penitências. Aquele Deus que os homens inventaram à sua imagem e semelhança, para depois se fazerem à imagem e semelhança desse Deus.


Penso num Deus como Verdade latejante a que virámos costas. Um Deus cuja inteligência não alcança e, por isso mesmo, é sol do amanhecer. 

Penso em Espírito, com sílabas sem desterro, sílabas mansas a cair sobre a Terra à luz do calor ou do frio. Sempre o amei e a ele rezo a oração dos poemas que se demoram no coração, mas com pressa de correrem para o papel como pétalas de música.

Reparto com Deus a alegria das mãos, as viagens dos olhos, a inexcedível música de todos os ouvidos, a fome de  paladares sorvidos nos lábios. Na boca.

Sei que O escuto na confidência das águas, dos rios e mares que ouço na cabeça, nestas noites descalças, ávidas dos grandes berros das gaivotas quando Deus também desce para as escutar.

Bendito sejas, Deus de Deus, luz da luz. Da que me dás. A que me ilumina.










Comentários

Mensagens populares deste blogue

ESTIO À BEIRA-FRIO

CHÁ D'ABRIL

Velas e rosas apaziguadas.