Seguro a vida enquanto posso
com os sentidos despertos
tateio a casa, os livros, os retratos
aspiro os cheiros da rua
e dos catos inodoros
a vestir as varandas
e por isso o cheiro é só meu
e não sei como dizê-lo em verso
ou fora dele.
Olho ao pormenor a cor púrpura do poente
ou a língua de fogo na nascente
ouço os sons da vida
a água a correr ou a cantar
e tudo é claro e puro
como uma criança
ainda sem perguntas.
Saboreio o paladar das luas gordas
e das rubras ameixas como lume
e de sentido em sentido
o que sei do mundo
é cheio ou pleno
e eu comigo.
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