Sexta-feira, 13 de Março de 2020

Manhã ao meu gosto. Acordei cedo e deixei a preguiça tomar conta de mim. Tinha adormecido com  As Rosas de Granada de Ahmed Ben Kassin, poeta árabe, identidade "roubada" pelo grande Daniel de Sá, para escrever belos poemas de amor que dedica a Maria Alice, sua mulher, a quem ternamente chama de Calie. 
Adormeci com as rosas na mão e assim fiquei até de madrugada. 
Regressei ao livro e retomei o sono. Acordei tarde.
Um largo sol entrava pelo janela quando a abri. Uma luz transbordante a trazer-me a vadiagem dos olhos, um cheiro imaginário a mar, os dias quentes sobre as dunas, o levantar da névoa na Lagoa do Fogo, a frescura branca da ilha Graciosa,  uma brisa miudinha na praça, à noite, e os candeeiros  floridos como afluentes de sol. 
E vadiei o dia todo dentro de tintas, flores, verdes, livros, preguiça e poesia.
Em casa o dia todo e outros dias que se seguirão para cumprir a quarentena imposta por um inimigo invisível.
Olho para a rua. Quase deserta. Nenhum criança no parque, apesar da luz convidativa, do baloiço e do escorrega. O amor segura quem ama. A casa é o sítio mais seguro para guardar os filhos deste receio que vagueia por aí...
Mas como as palavras chamam por mim e eu por elas, meti-me outra vez nas Rosas de Granada sílaba a sílaba, verso a verso:

A minha amada cantava entre as flores do seu horto/ Vinha no canto o perfume dos goivos e do jasmim/ A sua voz trazia a fragrância das rosas e  dos cravos/ Parei a escutá-la / Sem saber se deveria abreviar-lhe o canto/ Ou entrar logo no paraíso.

Tive saudades do Daniel, apanhado quase de repente pela borboleta negra. A sua Calie continua em S. Miguel, a amá-lo e a levar-lhe flores.
Foi na casa deles, na Maia,  que fui surpreendida, durante o jantar na varanda, por estas vistas que me abriram a voz para um canto de alegria que ecoou e arrebatou palmas vindas do lado da anónima simpatia.

A varanda está à sua espera, diz-me sempre a Maria Alice quando lhe telefono. 
Traga também a voz.








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