Há uma caixinha de música a tocar na minha cabeça. Toca sem parar. Sou eu que lhe dou corda, mas foi o meu pai que ma ofereceu para que eu adormecesse quando o sono tardasse. Tinha três anos. Duas bailarinas dançam em bicos de pés. Os passos são de tule. Ao lado, um cavalinho branco rodopia em círculos precisos. Eu sou uma das bailarinas. Danço e aplaudo. Não sei da outra. Vou ver se a encontro. Às tantas sou eu ao espelho. É noite já. Gostava de estar no mundo sem horas e com a caixinha de música a tocar, a tocar. Os meus pés inquietam-se de dança. Hoje foi o meu pai que deu corda ao realejo , mas está cansado. Muito cansado. Vou deixá-lo dormir. O cavalinho continua branco como os pés de tule da bailarina de neve. O mundo não tarda a estender-se no sono. Eu estou acordada com a caixinha de música a tocar na minha cabeça. 
Quando o meu pai  acordar, prometo dançar.





Comentários

Mensagens populares deste blogue

ESTIO À BEIRA-FRIO

CHÁ D'ABRIL

Velas e rosas apaziguadas.