Ver o que acontece em Itália não deixa de me doer profundamente.
Sinto-me herdeira direta dos romanos, novilatina de sangue e coração.
Em época de Quaresma fiz uma viagem a Roma durante uma semana. Ainda hoje fico atordoada pela monumentalidade majestática carregada de memórias.
 Molharam-se-me os olhos no Coliseu onde vi ressuscitados os gladiadores, as feras e os indefesos cristãos atirados para o circo, pátio de recreio dos instintos bárbaros que a humanidade persiste em exibir; extasiou-se-me o olhar com os templos, as estátuas, as pinturas; sobressaltei-me de alegria nas Praças de Navona, do Povo e de Espanha; colori-me de júbilo na Fontana de Trevi onde atirei uma moeda , pedi um desejo e prometi voltar;  calou-se-me o coração junto da Pietà, na Basílica de S. Pedro. Fiquei vidrada naquela imagem, num hipnotismo doloroso.
O que eu via naquela escultura, para além da capacidade artística de quem a esculpiu, era o filho morto, um corpo adulto, numa atitude de desolação e de abandono, nos braços de uma mãe menina, impotente na sua doçura, agasalhando o filho numa resignação insuportável.
Isso é que é dramático de ver, sentindo.
Miguel Ângelo superou-se. O artista teve de descer à interioridade mais cava dos afetos, de se desdobrar em múltiplas dores para poder esculpir aquele quadro.
O que eu vi naquela imagem foi o sofrimento de todas as mães do mundo captado de forma insuperável, porque insuportável na resignação. Um filho morto no colo da mãe. Um homem adulto nuns braços de uma mãe menina, mas protetora, na sua resignação insuportável.

Regresso a Roma com lágrimas, através dos media e não posso abandonar o incómodo das imagens. Caixões e caixões alinhados, uma Itália a pedir auxílio e uma Europa virada para os seus umbigos individuais.
A itália! Roma e a praça Navona onde cantei"la bella polenta"debaixo de um céu morno e da rua enfeitada de telas e telas de artistas dormentes. 

Mas a Pietá nunca me saiu dos olhos, ela e a árvore que deixei a vestir-se, diante da janela da minha  sala, e que se ataviou de folhos de verdura para me adoçar um outro olhar, no regresso.

O que é que a árvore tem a ver com a Pietà, perguntarão?


Uma sorria em plena primavera. A outra tinha a beleza da estação, mas abrigava o inverno, olhando, segurando impotente, nos braços desolados, o filho morto, numa resignação insuportável.






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