Sol rima com quase tudo que gosto: mar, rio, ondas, verdura, madrugada, manhã, sorriso, canto, abraço, beijo, poema, duna, ilha, fruta, barco, mesa, sumo, peixe, ponte, paixão.
Entra-se pelo verão dentro e estiram-se os olhos pelas noites quentes com brisas marinhas e luzes misteriosas. Às vezes, as noites parecem irreais, lugares de perfeição absoluta. Com clarões e sombra. Lembram os moinhos de Quixote, a tentar libertar Dulcineia das garras do dragão. 

Os dias são longos e preguiçosos com  folhas para escrever ou não escrever.
A luz do dia cega sobre o mar, com um azul difícil de decifrar, num milagre explosivo a libertar todo o mal do mundo.
Mas fujo da confusão.

Gosto do verão de junho, ainda a nascer, com as manhãs atravessadas de luzes douradas, límpidas, desatormentadas, manhãs como raparigas a costurar a maciez dos sonhos junto à boca da fonte.
Ou outra boca.

E gosto de todas as águas. Se o mar é paixão, o rio é devoção. Não morre e sabe amar as pedras e as vozes uivantes que o namoram. Outras vezes serena os barcos e adormece na mudez do azul.
No princípio do estio ou no fim da primavera concentra-se a beleza capaz de namorar os olhos até ao delírio bruto, puro, iniciático.

O fim do verão traz a melancolia da despedida e prenuncia uma grande noite que se abre para um horizonte de longa espera.
Ainda há o setembro pelo meio, com os cachos a rebentar nas videiras. E é bonita essa ilusão de promessa , mas é um prenúncio do outono,  uma janela que não abre para azul nenhum.

Depois, o longo inverno.  O fim da poesia que escorreu no sangue. Como um amor que não vingou.
Uma Dulcineia acorrentada, a acenar a D. Quixote, morto sobre a própria espada.

Gosto dos dias preguiçosos, alados de luz. Volto a eles na desmedida ternura dos moinhos, eu Dulcineia, fiel ao mar e às espadas de sol  e vento.



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