Nos degraus da inquietude uma mulher canta
traz a casa nos pulsos doridos
o cansaço dos filhos 
a exigir roupas e pão
as asas paradas 
e o lume por acender.
Canta a morte no dinheiro contado
que não estica
no frio das frinchas esquinadas
pelo sopro do vento
e pelas vielas da fome.
Nos degraus da inquietude uma mulher canta
e ninguém ouve a sua voz decepada
desde que o mundo acordou
há biliões e biliões de anos.
É sempre a mesma mãe que canta.
A mesma mulher nos degraus da inquietude
envolta na solidão.
Estou a ouvi-la no meu conforto
e ela não me vê.
Para que quer ela olhos e eu ouvidos?





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