A poesia tradicional tem raízes perduráveis e caminhos que levam às romarias.  Embora os novos registos poéticos sejam sempre louváveis, para que não se negue o imaginário, volta-se à redondilha, como quem vai à fonte encher de água ancestral o cântaro. E não se quebra o vaso. Pelo contrário, as sílabas estremecem de graça e os ouvidos abrem-se para a leveza do canto.
Na redondilha espraiam-se todos os orvalhos. A menina que vai lavar cabelos ao romper da alba, a que chora de ausências, a que dança debaixo da avelaneira florida ou reza na ermida.
É na medida velha que o nosso Camões tece loas à beleza ou se desencanta com o desconcerto do mundo que, só para ele, anda concertado.
A redondilha serve a música como nenhuma outra métrica e para todo o tipo de pano. Da chita à seda,
da sedução à sárira, do baixo ou elevado louvor, do riso ao choro, ei-la a registar emoções que perduram e ressoam numa emblemática cadência que comove a vida . 






Senhora, partem tão tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

tão tristes, tão saudosos,
tão doentes da partida,
tão cansados, tão chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.

partem tão tristes os tristes,
tão fora de esperar bem,
que nunca tão tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.


João Roiz de Castelo-Branco
in Antologia do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende





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