MILHAZES

Quando eu era aquela menininha
Que em botão começava a despontar
Havia a aldeia toda minha
E os campos que eu ouvia assobiar.
Cantava o cântaro na fonte
Cantava a fonte em versos desiguais
Cantavam vozes femininas trigueirinhas
E respondiam-lhes do céu as dos pardais
Que linda era a terra e o gado e os pastos
E as noites de rosas ao luar
E as estrelas refulgentes de repasto
E a voz do canário a namorar.
Ah, como eu te amava, minha aldeia,
De Abril a Setembro eras tu o paraíso
E descobria presépios nas encostas
E vislumbrava Jesus no meu sorriso.
Como eu era quente lá por dentro
Nas águas dos frescos ribeirinhos
E em tudo onde meus olhos se lavavam...
Onde foi isso?
Onde fui eu?
Dêem-me de novo o céu
Um dia apenas...
Uma hora...
Um momento...
Um pouco de paz e consoada
Que eu preciso encontrar o encantamento
Da menina que adormecia ao relento
Ao som da sua fonte enamorada.

Comentários

Delfim Peixoto disse…
Em busca da pureza da Infância, dos lugares e das noites permitidas em sonhos cor-de-rosa..
Quão doce é lembrar os tempos que ainda nos fazem sentir crianças...
Belo, como sempre!
Jnhs.... muitos :)
Anónimo disse…
Ibel,

Eu vislumbro o céu e a paz no encantamento da sua Poesia!!!
Nunca deixe de escrever!
Anónimo disse…
Prof que fiche!Ponha esse poema no teste. Vá lá...
Recebeu mail?
Anónimo disse…
Essa menina está dentro de si! Escute... sim, um pouco mais!!! Está a ouvi-la sussurrar-lhe "frutos de mimar"? Deixe agora que ela tome conta dos seus sentidos e que lhe abra as janelas do pensamento, por onde entram e saem as palavras de amor, esse poeta que nos habita!

Um abraço!!!
Anónimo disse…
A menina que adormecia ao relento ainda o é, como se pode ver nas aulas que dá e que nos encantam.
Raquel disse…
Por aqui choveu um pouquinho ao ler essas suas lembranças que fizeram as minhas acordar...
Bjs
AC disse…
Não sei se por simples associação de ideias, quando li o seu poema veio-me à memória "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust. Curiosamente, ainda tenho para ler (é uma leitura que requer disponibilidade, e ultimamente isso é coisa rara) parte do último volume, curiosamente designado por "O Tempo Redescoberto".
Coincidências...
Escrita magnífica, como sempre!
Anónimo disse…
Maravilhosa a forma como traduz docemente as imagens do passado.Passeei-me pelo seu blog e senti-me tentada a ler tudo.
Escreva,IBEL!
Uma mãe reconhecida que lhe pede encarecidamente que leve os seus actuais alunos até ao 12º ano.Todos os pais desejam a Ibel para professora dos filhos.Também a guardo no meu coração para sempre como a professora vistosa, alegre, dinâmica, divertida , exigente, graciosa, cantora, dançarina, temida e respeitada.
Desculpe tanta conversa, mas tinha de lhe abrir o coração depois de ter chorado umas lagrimazinhas...
Anónimo disse…
Com o teu poema também me sonhei menina feliz e em paz numa aldeia bem pertinho da Galiza. Lindo! Quem merece excelente, quem é?
Anónimo disse…
O encantamento está nas palavras...mas ainda há lugares mágicos como os do poema.
Gostei muito destes "sons" da aldeia.
bjinho.
Isabel
Mar de Bem disse…
"Todos os pais desejam a Ibel para professora dos filhos.Também a guardo no meu coração para sempre como a professora vistosa, alegre, dinâmica, divertida , exigente, graciosa, cantora, dançarina, temida e respeitada."

Lia, tu és tudo isto e és também MEL de MELancolia, de saudade, de mimo, de menina, de amorosa, de AMIGA MANA!
Tu és um poço de ternura... e eu gosto muito de ti, minha recém-mana!!!
Cris disse…
Olá minha amada perdão.
A busaca da menininha de uma forma tão doce e tão densa.
Que lindo poema!
Estou com muitas saudades.
Beijos no coração.
Anónimo disse…
Saudades...
conforto da inocencia
das pequeninas coisas
que no tempo são enormes...!

Ternura imensa nas tuas palavras!
Parabéns
:-)
Beijinhos
Anónimo disse…
Belas recordações de infância...belo poema como tudo o que escreve.Quando publica um livro?
Eu vou ser a primeira a comprar.
Beijos Cristina

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