CARONTE


São de pedra as horas

e o vinagre morde a boca

dos profetas.

Talvez um dia um barco...

Mas o tempo é duro

e as abelhas fervem

no pântano.

Na cruz,  Deus!


Na penumbra da terra

os barqueiros


têm os mastros quebrados.

Não podemos partir

-dizem-

Mas Caronte aguarda

o peixe miúdo

para a larga barcas deuses sacrificados

na

de palavras vãs.

(Pai, por que me abandonaste?)

Comentários

antónio joão disse…
Impressionantes imagens mitológicas bem ajustadas ao poema.
Num Portugal em extinção,só os artistas conseguem dizer com sensibilidade as realidades transfiguradas pela linguagem poética.
Valeu, Ibel(a)!!!!
Pedro Castro disse…
Gosto de a ler,prof, mas há poemas muito difíceis.Este é um deles.Penso que o entendi, depois das difíceis análises que temos feito.

Beijinho
Unknown disse…
Depois das notícias tenebrosas que ouvimos a toda a hora,chega-se a gente aqui e volta a ouvir do mesmo,só que duma forma mais dolorosa, porque toca a alma da gente de forma doce.
beijo
Zé Rainho disse…
Ibel,
Magnífica forma de dizer que o "Rei vai nu". O mesmo é dizer que, não só caminhamos para o abismo mas nos aproximamos, a passos largos, para o inferno.
Beijinhos
Caldeira
Anónimo disse…
O teste correu bem. Muito obrigada pela muleta. Se saísse este texto, a coisa complicava-se, mas acho que entendi o fundamental. Obrigada e muitos beijinhos.

T.F
Em@ disse…
Ibel, li o Pedro e ele veio de encontro ao meu pensamento.mas também não temos que escrever fácil, não é?
_____
eu amei o teu poema e achei-o (acho) muito apropriado ao momento que vivemos.
beijo no coração
Contra.facção disse…
As palavras dos profetas, às vezes são doces, ácido é o depois...
De Deus, só a sua mão, que o neoliberalismo endeusou...
A espiritualidade morreu com os deuses e a raia miúda enche as vidas vãs das abelhas...
Pai, por que nos abandonaste!!!
AC disse…
O ribombar do trovão alastra pelo vale, inundando de inquietação o rebanho abandonado a si próprio. No horizonte vislumbram-se terríveis nuvens negras. Os modernos profetas, instalados na torre de marfim, proclamam o sacrifício geral, enquanto ajeitam a gravata de seda...
Atravessamos tempos danados e raivosos, Ibel! Excelentemente retratados nas suas palavras.

Beijo :)
E.A. disse…
Um poema tremendo, Ibel! E mais, não sei que diga. Um beijinho
GizeldaNog disse…
Uma larga barca de palavras vãs...talvez seja este o inferno.

Um texto denso, profundo que se casou perfeitamente com as imagens.

beijos, querida.
Flávia disse…
Boa noite

Se me permite, o mais belo neste poema é a impotência dos deuses da terra/povo, os sacrificados mas verdadeiros heróis que se debatem com as suas fragilidades:os braços quebrados. Adorei.
velida disse…
Vir ao teu espaço, acalma-me, embora prefira os textos em que falas de ti.
Beijo, Isabel.
velida disse…
Vir ao teu espaço, acalma-me, embora prefira os textos em que falas de ti.
Beijo, Isabel.
JB disse…
Ibel,

A minha falta de assiduidade apenas se deve à falta de tempo... :) tenho passado, leio, mas depois não tenho tempo para comentar como gosto...
Acho que só poderei tentar fazê-lo aos fim-de-semana...
As suas palavras cheias de um doce amargo na dureza do tempo que azeda na esperança de um futuro em que ainda se deposita esse mel de quem tenta a todo o custo quebrar o inferno...

Uma barca poética deveras bem construída! :)

Beijinho
Maria Manuel disse…
Caronte transportava as almas para o outro mundo em trca de moeda.O que vai ser dos mortos, agora? Depenados em vida e sujeitos a serem atirados ao«Pântano»...
Gostei do seu poema"Agoniza o meu país".

Uma colega de Leiria, que muito admira a sua escrita.
Anónimo disse…
Ibel
Com a sua sensibilidade de mulher das letras,tem feito dos seus poemas denúcias muito pertinentes, talvez por isso gosto tanto de a ler.

Alda
DelfimPeixoto disse…
É por esta força das suas palavras que a minha força se torna maior!
Obrigado!
Bjnhs
Anónimo disse…
No dia dos fiéis, este Caronte é ainda mais assustador,mas submetido às tuas mãos de fada, Ó Bela, até arrepia pela beleza.

Um beijo da tua prima.

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