"Ai minha mãe, menininha"





Dobram os sinos e a tarde esfria
quase glacial e muda
como tempo de morrer.
Agitam-se corpos atirados
para a azáfama mercantil
do gasta e desgaste
de haver natal
e tudo isto me traz
descida em mim uma tristeza
de fazer mal.
Bethânia e Caetano cantam
oração de minha mãe menininha
e pousam-se-me os olhos
hoje
mais verdes
no varandim da saudade.
Ai minha mãe
minha mãe menininha...
ecoam as vozes suaves
pela casa do meu ser
em trambolhões de lágrimas
e o pinheiro pisca
com luzes sem luz
de nada haver
hoje
em mim de Natal.
Ai minha mãe
minha mãe
menininha...
Canta Dona Canô
nessa doçura abençoada
com o olhar de minha mãe
assim velhinha ela também
quando a onda
se fez da cor da sombra.
Canta Bethânia
Caetano canta
canta dona Canô
a dor desse canto.
Ai minha mãe!

Comentários

Contra.facção disse…
"...gasta e desgaste
de haver natal
e tudo isto me traz
descida em mim uma tristeza
de fazer mal."

Também a mim.
Um beijo para a tua mãe, que bem me lembro e Bom Natal, desde já.
Zé Rainho disse…
Ibel,
O Natal traz destas coisas. Lembranças, saudades, amor, amizade, solidariedade. Paradoxalmente, traz consumismo, solidão, tristeza, dor.
É próprio da condição e fraqueza humana.
Mas se nós quisermos pode ser um limpar de alma. Um renascimento pessoal. Porque o Natal do presépio de Belém é diferente do Pai Natal. No primeiro há família, há calor humano. No segundo há prendas, luzes, vestes exuberantes e pouco mais do que isso.
É a alteração de valores que nos fazem sentir melancólicos no Natal.
Vivo essas contradições, dia a dia.
Beijinhos e um Santo Natal para si e para todos os que lhe são queridos.
Caldeira
Ana Luísa disse…
Tão bonito professora!Estou a vê-la chorar.É por isso que temos todos muitas saudades.
Um dia destes vamos visitá-la.
Feliz Natal.
Beijinhos
Anónimo disse…
LINDO, LINDO, LINDO!

Obrigada pela sua poesia, Ibel. Gostaria muito de a conhecer pessoalmente.
Beijinho

Alda
C. M.P. disse…
Agora que chegámos às férias, já consegui pôr a leitura em dia. Já não passava por aqui há algum tempo e sentia saudades da tua poesia e prosa poética. Tens desenvolvido um excelente trabalho, deixando transparecer toda a beleza e ternura que irradias, mulher do norte!
Espero que seja para breve a publicação do teu livro que muitos esperamos com ansiedade, na certeza de que será um sucesso.
Anónimo disse…
Que saudades querida Professora, um grande beijinho e Feliz Natal.
Ana Gabriela Castro
Ibel disse…
Miguel

Também é a parte do poema que prefiro. Uma pessoa acaba de sair de um período de estafa e põe-se a comprar prendas, prendas...Mas que espírito de Natal é este?

Zé,
Estamos em sintonia, amigo.

Ana Luísa e Ana Gabriela
É melhor nem falarmos de saudades para eu não desabar. Apareçam, tragam-me novidades e muitos beijinhos de que gosto tanto...

C.M.P

Obrigada pela força. Gosto de ser "mulher do norte, Sim!".

Alda,

Umdia a gente tem de se encontrar, amiga assídua e terna.

FELIZ NATAL para todos.

Abraços e Abreijos.
antónio joão disse…
Quem a conhece, sabe bem o quanto é sincero este poema belíssimo.

Abraço
AC disse…
Natal, "azáfama mercantil"...
É impossível não olhar, é impossível não sentir. E o diagnóstico entristece.
Mas a tristeza não pode fazer escola. Não somos os donos da verdade, e há muitas por aí à solta. Quase todas da cor do carvão. Mas há outras. Estas, de tão discretas, mal se notam por entre os escombros deste edifício podre. Contudo, a pouco e pouco insinuam-se. E, apesar da esperada queda do velho edifício ir provocar muitos dramas e muitos choros, acreditam na construção dum novo olhar, dum novo sentir...

Ibel, que o seu Natal seja pleno de essência!

Beijo :)
GizeldaNog disse…
Ibel...minha querida!
Minha mãe fez 90 anos no dia 5 de dezembro e está se esvaindo devagarinho, mas intensamente lúcida.É tão triste a nossa impotência!
Imagino suas saudades. Eu as tenho do meu pai...era doce e silencioso.

Acho o Natal lindíssimo, enfeito e ilumino tudo, mas a saudade não sai do cantinho onde se instalou.

Esse texto é inacreditável.Parabéns!E um NATAL COM TODA A FELICIDADE POSSÍVEL...

É mais que coincidência duas pessoas se encontrarem no Cosmos, na mesma hora e no mesmo lugar, com tanto espaço no Universo. Pois é, Ibel,um dia encontrei você aqui
e isso foi mais que coincidência, foi uma felicidade.

Um beijo com sabor de bolo xadrez e cheirinho de cipreste.
Anónimo disse…
Olá, Professora do Coração!

Tão, verdadeiramente, sentido o poema.
Tão doce a canção, em Português com açucar, como só eles a sabem cantar.

Beijinho canela

Francisca e Mafalda
borralheira disse…
Boas festas stõra linda, ai minha prof...
Ibel disse…
Gizelda

Escrevi este poema, depois de ter ouvido a música.A dona canô lembrou-me muito a minha mãe no olhar e no gesticular de mãos. Chorei de verdade. A minha mãe não respirava sem mim e éramos completamente dependentes uma da outra.
Ter encontrado a Gizelda foi uma benção.
Beijo

Ac
Concordo com tudo e faço sempre para que toda a minha vida tenha "essência"

Abraço, amigo. Fes

António João

Obrigada pelo que escreveu e pela força que me dá.
Abraço

Maninhas "iguais" e diferentes

Fiquei muito feliz com as vossas notas.É um orgulho ter sido vossa professora.

Borralheira(?)

Quem será?

Seja quem for, grata pela ternura.

FELIZ NATAL para totos.
estrelinha disse…
Pouso os meus olhos junto aos teus, estrela-mãe, nesse varandim da saudade, e escuto com nitidez os passos da nossa “menininha” pela casa, em direcção ao meu quarto...
- “Posso ficar sentada na tua cama, enquanto estudas?”
- “Podes, avó, para sempre...”
Ibel disse…
Minha estrelinha

Desabei de vez...Com a avó sentada ao teu lado para sempre, nada de mal te pode acontecer.

Beijinho, filha.
JB disse…
Ibel, após o período das avaliações... (e sabe tão bem como é... :)...

Venho, por agora, desejar-lhe um Santo e Feliz natal, cheio de paz, saúde e amor, junto dos que mais ama!

Beijinho
antónio joão disse…
Música maravilhosa,IBEL!
BOM NATAL.

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