Meu Menino Pessoa

O Fancisco fez dezoito anos. A mãe andou a compilar textos do filho , desde que ele era pequenino. E textos das pessoas que "marcaram"o Francisco. Pediu-me se escrevia umas palavrinhas. Depois, os próprios amigos também me vieram pedir. Fi-lo com orgulho, por saber que não foi em vão um convívio de três anos, com este e com outros alunos. É bom saber que deixamos boas recordações.

Há pouco mais de um mês,no DIA DA ESCOLA, o Francisco, o Bernardo, o Pedro, o Zé António dramatizaram Pessoa e os seus heterónimos ,tendo também marcado presença a Ofélia, com a voz da Andreia numa" carta de amor ridícula". Foi um número bonito e sóbrio, que foi reproduzido numa tertúlia de sobremesa, confeccionada por mim e por eles, na Casa do Professor.

O Francisco vestiu a pele de Fernando Pessoa, facto que inspirou o texto que lhe escrevi. Não se pense, no entanto, que eu distingo o Francisco dos outros alunos que eu adoro, mas realmente , tenho de confessá-lo, fiquei emocionada com o pedido. E comou já sei que ele tem o texto em mão, deixo-o aqui agora, pois já não quebro a surpresa. Aproveito também para felicitar a mãe pela prenda diferente que reservou para o filho, ele sim, uma prenda preciosa.



Nunca perdi a memória do cheiro das rosas da estrada matinal da minha Primavera. Nem a do canto dos pássaros nos ramos do coração. Nem a dos afectos do ninho paterno, sempre aberto à luz. Por isso me comovo com imagens renovadas de mim, aves jovens que se elevam acima das próprias asas, para as verem, do pino das alturas, a ganharem fôlego para grandes voos. Acho que é a memória quente desses cantos depurados que me espevita uma alegria menina, que tento preservar, para que se atenuem as telhas da casa ameaçada pelo tempo.

Só se faz dezoito anos uma vez. E dezoito não é o mesmo que dezanove ou mesmo vinte. Dezoito Primaveras é o prenúncio de um Verão que ainda o não é, mas vai chegar, e, por isso mesmo, mais aliciante, pela expectativa que cria.
Quando fiz dezoito anos frequentava o primeiro ano da faculdade, no esplendor da minha beleza e juventude. Tinha o coração enorme, como tu, Francisco! Tinha a felicidade e o amor espelhados nos olhos, no rosto e em todos os poros dilatados do meu coração. Como tu, meu menino Pessoa!


É um privilégio escrever-te estas palavras que irás guardar como lembrança da tua amiga e professora de Português de Ensino Secundário. Bastou-me a primeira aula para vislumbrar a luzinha que resplandecia nos teus olhos e no teu cérebro. Depois foi um caminho de três anos, num afecto recíproco de aurículas e de ventrículos. Foi ver-te crescer por dentro e por fora, na mesma proporção de beleza.

Este ano irás já para outro mundo diferente, deixando para trás os corredores de uma escola onde cumpriste, com elevado mérito, mais um ciclo da tua vida académica. Continuarás, tenho a certeza, a escalar novos degraus que se prefiguram soalheiros; continuarás a lutar por um futuro que te permita saborear os sonhos que desenhas nas linhas do teu coração.

Em mim ficará uma profundíssima, íssima, íssima saudade da pessoa do meu menino Pessoa, e os meus olhos atentos, seja onde quer que eles possam estar, para ver-te subir acima das tuas próprias asas, ao pino das alturas, onde te guindarão os teus altos voos.


P.S. Nove ( três vezes três!).

Muitos parabéns, Francisco!
Braga, 9 de Maio de 2008

Comentários

Anónimo disse…
Parabéns Francisco. gostei de te ver declamar.Foi altamente quando leste com a Andreia a carta de amor.
Anónimo disse…
Prabéns para a professora que motiva os alunos para estas acções, promovendo o gosto pela leitura e proporcionando belos momentos, como já tive a felicidade de assistir. e o Francisco está realmente de parabéns e os outros colegas também porque foram excelentes.Um aplauso muito grande para a voz do Álvaro de Campos.

S.A.Dias
Anónimo disse…
Para esses jovens que são um orgulho para a escola, para os pais e para os professores,um fote aplauso.Para o francisco uma vida em cheio.

J.Carvalho
Anónimo disse…
Para o Franscisco:
Vi-o três vezes.Duas em casa da sua amiga-professora-amiga e na Casa do Professor.
Não sei se se lembra que quando agradeci disse que mesmo conhecendo há pouco tempo e durante tão pouco tempo, também eu já gostava de vocês. É verdade! Há caras e olhares que mostram logo o coração e desmentem o ditado popular que diz:"Quem vê caras, não vê corações"
Olhei para a sua juventude, para os seus olhos ora ridentes, ora compenetrados e vi um jovem culto, afável e promissor.
Para si os meus parabéns atrasados, mas também para os seus pais, professores e amigos que assim o fizeram, porque ninguém se faz sozinho.
Gracinda Castanheira
Anónimo disse…
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse…
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse…
Não sei o que se passou tecnologicamente que fez o meu comentário aparecer 3 vezes . Eu sei que o erro foi meu de certeza...
desculpa ibel e elimina 2
Gracinda Castanheira

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