O NOME DO PECADO
É preciso recordar o medo
E trazê-lo à luz da hipocrisia
É preciso recordar o Holocausto
Com olhos viúvos de alegria.
É preciso chamar a humanidade
Ao espelho da sua cobardia
E recordar os corpos desnudados
Magros de sonho e fantasia.
É preciso recordar os rostos
De quem não pediu para nascer
E chorar com lágrimas de sangue
As crianças que não chegaram a crescer.
É preciso lavar o rosto até varrer
A poeira libertada da amargura
Dos que lixo foram antes de o ser
Na cova da anónima sepultura.
Comentários
Desde recém-nascido que tenho vindo a acompanhar o seu blog. Tenho-me mantido escondida do lado de fora do ecrã...mas hoje achei por bem quebrar o hábito.
Está realmente bonito o poema! E acrescente-se a isso o valor inestimável da mensagem.
É impossível seguirmos impávidos sabendo que quase sempre é demasiado tarde e que nunca o Homem se livrará da dívida que tem para com o respeito pela sua própria dignidade. Hoje evocamos o passado como exemplo do que jamais deva ser de novo permitido...encontraremos, enfim, o derradeiro exemplo? Os grilhões da escravatura, as fogueiras da suposta Santa Inquisição, os campos de concentração em prol da purificação da raça...e tudo em torno do mesmo: a mentalidade raquítica e a presunção sórdida do ser humano. Em tempos, o Homem acreditou ser o centro do Universo e viu rodar em torno de si todo o Cosmos, desde lá que já em muitos vão os anos...Mas se assim queremos que aconteça, sejamos então o centro de todas as coisas. Porém, sejamo-lo como unidade em que todos somos semelhantes e igualmente dignos por sermos Homens! E que das fraquezas se faça a virtude.
A principal função da História é, através da compreensão do passado, prevenir o futuro.
Os "mandadores" têm tratado com enorme desrespeito esta disciplina. Eles próprios demonstram, a miúde, grande ignorância neste domínio.
Qual será o nosso (de toda a Humanidade) futuro? Não sei.
Não parece que possa vir a ser melhor. Mas nunca é demais divulgar os crimes do passado. Os meus parabéns!
Beijinhos
Tudo tão belo!
Mas a maior beleza está em quem ensinou a Carolina...e tantas carolinas deste país a verem o passado e aprenderem a respeitar o que é de respeitar, e a repudiar o que é de repudiar.Passamos-lhes conhecimentos, mas sobretudo valores e sentido crítico. E mais uma vez fomos nós professores.
Obrigada Ibel pela poética e obrigada Carolina pelo testemunho.
gracinda
O teu comentário é revelador do teu rosto, da tua alma sensível e do teu compromisso com o mundo.
És uma aluna muito especial porque tens um sentido crítico muito apurado e porque reflectes profundamente sobre as coisas que são importantes e que dignificam o Homem.
Tu fizeste o meu retrato no décimo ano e fiquei logo impressionada pelo rigor da descrição e da linguagem. Nestes três anos de convívio, o perfil que tracei de ti tornou-se mais sólido e quando li o teu comentário emocionei-me, porque eu já te sabia assim.
Como diz o nosso Pessoa" Quem tem alma não tem calma" e que alma a tua, CAROLI(ND)A!
Esqueci-me de assinalar o seu nome no último comentário, mas percebeu que era para si.
Beijinho
Eu não ensinei à Carolina o que é essencial.Isso foram os meus pais que lhe ensinaram. Eu talvez tenha apenas contribuído para acrescentar mais alguma coisa.E ela soube captar, porque é muito sensível e muito culta.
Mas obrigada por me alimentares a auto-estima, neste tempo em que nós, os professores, estamos tão fragilizados.
Aquele abraço fraterno de sempre.
Neste tempo que vivemos, é fundamental dar a conhecer o trabalho empenhado e de grande qualidade de grande parte dos professores portugueses.
Esta é, também, uma forma de luta.