O NOME DO PECADO

É preciso recordar o medo

E trazê-lo à luz da hipocrisia

É preciso recordar o Holocausto

Com olhos viúvos de alegria.

É preciso chamar a humanidade

Ao espelho da sua cobardia

E recordar os corpos desnudados

Magros de sonho e fantasia.

É preciso recordar os rostos

De quem não pediu para nascer

E chorar com lágrimas de sangue

As crianças que não chegaram a crescer.

É preciso lavar o rosto até varrer

A poeira libertada da amargura

Dos que lixo foram antes de o ser

Na cova da anónima sepultura.



Comentários

Anónimo disse…
Olá professora!

Desde recém-nascido que tenho vindo a acompanhar o seu blog. Tenho-me mantido escondida do lado de fora do ecrã...mas hoje achei por bem quebrar o hábito.

Está realmente bonito o poema! E acrescente-se a isso o valor inestimável da mensagem.
É impossível seguirmos impávidos sabendo que quase sempre é demasiado tarde e que nunca o Homem se livrará da dívida que tem para com o respeito pela sua própria dignidade. Hoje evocamos o passado como exemplo do que jamais deva ser de novo permitido...encontraremos, enfim, o derradeiro exemplo? Os grilhões da escravatura, as fogueiras da suposta Santa Inquisição, os campos de concentração em prol da purificação da raça...e tudo em torno do mesmo: a mentalidade raquítica e a presunção sórdida do ser humano. Em tempos, o Homem acreditou ser o centro do Universo e viu rodar em torno de si todo o Cosmos, desde lá que já em muitos vão os anos...Mas se assim queremos que aconteça, sejamos então o centro de todas as coisas. Porém, sejamo-lo como unidade em que todos somos semelhantes e igualmente dignos por sermos Homens! E que das fraquezas se faça a virtude.
Elisabete disse…
Lindo o poema, lindo o comentário da Carolina!
A principal função da História é, através da compreensão do passado, prevenir o futuro.
Os "mandadores" têm tratado com enorme desrespeito esta disciplina. Eles próprios demonstram, a miúde, grande ignorância neste domínio.
Qual será o nosso (de toda a Humanidade) futuro? Não sei.
Não parece que possa vir a ser melhor. Mas nunca é demais divulgar os crimes do passado. Os meus parabéns!
Beijinhos
Olá irmã:
Tudo tão belo!
Mas a maior beleza está em quem ensinou a Carolina...e tantas carolinas deste país a verem o passado e aprenderem a respeitar o que é de respeitar, e a repudiar o que é de repudiar.Passamos-lhes conhecimentos, mas sobretudo valores e sentido crítico. E mais uma vez fomos nós professores.
Obrigada Ibel pela poética e obrigada Carolina pelo testemunho.
gracinda
Anónimo disse…
olá Carolina!

O teu comentário é revelador do teu rosto, da tua alma sensível e do teu compromisso com o mundo.
És uma aluna muito especial porque tens um sentido crítico muito apurado e porque reflectes profundamente sobre as coisas que são importantes e que dignificam o Homem.
Tu fizeste o meu retrato no décimo ano e fiquei logo impressionada pelo rigor da descrição e da linguagem. Nestes três anos de convívio, o perfil que tracei de ti tornou-se mais sólido e quando li o teu comentário emocionei-me, porque eu já te sabia assim.
Como diz o nosso Pessoa" Quem tem alma não tem calma" e que alma a tua, CAROLI(ND)A!
Anónimo disse…
Ontem recebi um mail com imagens dos supliciados em Auschewitz,e por mais que a gente veja, não consegue deixar de sentir aquele arrepio que provoca um remorso de qualquer coisa que parece ter sido cometida por todos nós.Vim ao blogue e comecei a escrever, inpirada no poema "Urgentemente" de Eugénio de Andrade, que a minha filha tinha deixado como comentário,ao penúltimo texto escrevi.E só conseguia ver pecado naquelas imagens todas e um INFERNO que foi lento e eterno.
Anónimo disse…
Elisabete,

Esqueci-me de assinalar o seu nome no último comentário, mas percebeu que era para si.
Beijinho
Anónimo disse…
Cindinha,

Eu não ensinei à Carolina o que é essencial.Isso foram os meus pais que lhe ensinaram. Eu talvez tenha apenas contribuído para acrescentar mais alguma coisa.E ela soube captar, porque é muito sensível e muito culta.
Mas obrigada por me alimentares a auto-estima, neste tempo em que nós, os professores, estamos tão fragilizados.
Aquele abraço fraterno de sempre.
Elisabete disse…
Parabéns à "Cindinha" pelo comentário.
Neste tempo que vivemos, é fundamental dar a conhecer o trabalho empenhado e de grande qualidade de grande parte dos professores portugueses.
Esta é, também, uma forma de luta.

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