Parabéns, "Pepo Caleila!"


Luís(inho),

Gostava que fosses outra vez pequenino, porque eu teria menos anos do que aqueles com que a vida te brinda hoje. Tu serias o menininho que metia a cabeça nas grades do quarto andar, para gritar Ibeeeeeel, mal aparecia nas escadas do prédio, para ir jantar a tua casa. Todo tu eras excitação, alegria branca e espontânea, num olhar redondo de sol e de asas. Não sei qual dos dois era mais criança, sei é que nos amávamos com aquele amor que é sempre "urgente como um barco no mar".
Ele era o esconde-esconde atrás das portas, dentro do guarda-vestidos, debaixo da cama, na varanda e até dentro do tanque...
Mas do que tu mais gostavas era das histórias que te inventava na hora interrrrrrrminável da refeição! Cada colher era quase meia história que tu absorvias com sofreguidão. Quantas vezes te recontei a do menino e da Lua, a do leão que conheceste na floresta e que vinha dormir no teu quarto para te aquecer nas noites de Inverno?
A da lua era a tua preferida e tu já a repetias comigo. Era uma vez um menino que foi viver para o.... "tangeiro". Era a primeira vez que andava de... "bion". O céu "tava muto escuo" e o menino agarrava-se à mamã. Nisto, a lua encostou-se à janela do "bião " e "soiu pó meino". Era uma história bem engraçada em que o menino e a lua fizeram um pacto de amizade para a vida inteira.
Ainda olhas a lua, Luís Pedro? Onde anda o teu leãozinho? Já falaste desses amigos à tua filha, a "nossa Matildinha, sua marota?"
Tenho saudades desse tempo em que eu era a tua Ibel tresloucada, sonhadora, idealista, querendo que o mundo se moldasse à inocência das crianças como tu, "Pepo Caleila", menino sensível, que chorava com a balada dedilhada na guitarra pelo pai, na hora do adormecer.
Dentro da cabeça ainda não envelheci. A tua filhota já sabe que a tia Ibel é maluca e que a deixa meter bocados de papel pela boca dentro para que eu os mastigue. A marotinha sabe que, magicamente, quando me carrega na ponta do nariz, eles saem com estrondo, em repuxo, e o final é sempre gargalhada estridente.
Fazes anos, Luís Pedro Castanheira! Já fiz os que tu fazes hoje e no há muito tempo que foi ontem. Foste ao meu casamento no colo da tua mãe; estive com a tua filha , desde o primeiro dia em que se acendeu para o mundo; passei férias contigo na casa dos teus avós. Guardo-os na memória , com a tua avó a cantar numa voz molhadinha de regato "Tens a videirinha à porta, não a sabes estimar/Tens o amor ao teu lado, não o podes abraçar!"
Vês como eles estão hoje contigo?
Guarda-me sempre na tua memória como a contadora de pérolas de sonhos, dos momentos dos segredos sagrados e misteriosos, só possíveis no paraíso da infância.
Para mim, serás sempre o menino de olhar redondo de sol e de asas onde despontou uma Ibel que ainda teima em ser flor de amor dentro de um"barco no mar".

Comentários

Anónimo disse…
Parabéns, Pepo Caleila!
Tenho sido o mais teimoso a chamar-te assim: é a minha maneira simplória de perpetuar o carinho pelo rapaz cheio de vivacidade que sempre foste. Um abraço grande dos anos que espero continuar a ver-te crescer a ti e à "tua família".
Um abraço do Fidalgo!
Anónimo disse…
"Primo da minha escolha",

O teu dia foi abraçado por um Sol radioso e a noite virá acompanhada de uma Lua imensa, brilhante e intensa, como a das histórias que marcaram a tua meninice.
A "estrelinha" só veio a brilhar seis anos mais tarde e bebeu, também, as histórias que a Ibel te contava. Obrigada por teres sido a inspiração da minha mãe!

Um abraço terno e apertado de parabéns,

Ana ("estrelinha")
Anónimo disse…
A professora também tem um olhar de asas.Beijinho da Cláudia
Anónimo disse…
Obrigada Ibel.Eu tenho na memória todos esses momentos hilariantes que tu davas ao Luís e que tão feliz o faziam.Não os sabia tão vivos em ti.Somos realmente uma família de afectos e nossos meninos assim o sentem também.Colhe-se o que se semeia.
Um abraço menino
Cinda
Anónimo disse…
Sempre maravilhosas as suas memórias e a corresponderem à imagem da pessoa com quem tive o prazer de conviver e que me marcou para a vida inteira.
A vida de caloira não me faz esquecê-la e os novos meninos andam encantados, professora tresloucada", querida Ibel!
Cris disse…
Parabêns Luis,o menino que Ibel descreve e tanto acolheu mora em ti tenho certeza.Se formos uma saudade, pronto a vida valeu a pena.Felicidades.
Lia,tu pareces a Fada dos meus sonhos de menina, com ela iniciavam todas as histórias,e mesmo quando um livro fechava eu ficava imaginando onde havia se escondido a minha fada.
Percebo que meu lar é lua e a lua a cadeira da fada.
Beijos no coração no seu e do menino Luis.
Luis Castanheira disse…
Ibel

Peço desculpa por só hoje agradecer os mimos, mas estive a desfrutar as vossas mensagens!

Na infância com as tuas histórias fui feliz! Ainda hoje e só de as recordar o meu coração acelera!
As tuas brincadeiras com a Matildinha fazem-me "inveja"... apenas porque queria ser outra vez o "pepo caleila" e bricar com a "minha" Ibel!!

Sim, ainda hoje olho para a Lua e quando o faço agora tento mostrar à matildinha a Beleza que tu nela pintavas!

Obrigado por fazerem parte da minha família (sem aspas)!!!

Espero continuar a merecer os vossos mimos!

Beijos e Obrigado!!
Anónimo disse…
Olá outra vez! Sabe stôra, depois de ter lido mais um grande texto seu, gostava que me tivesse conhecido quando eu era mais pequenita.(Mas era quase imopossivel, pois somos meios muitos diferentes). Digo isto, porque gostava de saber como me caracterizaria, através das metáforas lindíssimas que cria. Fogo a stôra escreve coisas tão bonitas e profundas. Mas acho que vai gostar de me conhecer como aluna e como pessoa (apesar de não saber quem sou)penso que os próximos anos serão muito positivos, e que não nos abandone...
Até uma proxima aula...

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