A COR DA ALEGRIA

Toda a gente tem as suas cores de eleição e gostos não se discutem. Há quem seleccione as cores em função das simbologias a que andam associadas e, contra isso, nada a dizer. Há ainda aqueles que mudam de cor conforme as estações e os ditames da moda e não há argumentos de peso para rebater gostos tão apurados e submissos. Há também quem prefira a cor-de-tinto e essa pode implicar batimentos cardíacos acelerados, generosas sístoles e diástoles que retiram temporariamente a lucidez, mas que proporcionam momentos de felicidade irracional. Não sei, porque nunca provei. Há quem se marimbe para isso tudo e goste de misturar as cores em grande arraial de algazarra. E por que não? O próprio céu se atavia com cachecol policromático, metáfora agasalhadora dos olhos e que habitualmente designamos de arco-íris.
Eu sempre fui fiel ao branco, ao verde e ao azul. Estas são irremediavelmente as minhas cores, desde que me lembro de olhar para o céu, terra e mar. E gosto também do preto porque a noite me seduz como o canto da sereia.
Amo as noites no Verão, no Carvoeiro, com os ouvidos colados à voz da maresia e aos suspiros sussurantes das ondas no colchão da areia. Só não sei se hei-de dizer amor ou comoção. O que sei é que sempre associei essas cores ao rosto da alegria, se é que a alegria tem rosto.
Ora acontece que a minha filha, que regressou ontem da Tailândia, resolveu vir a Braga de surpresa pra visitar os pais. Eu tinha ido jantar fora com colegas para festejar o aniversário de uma amiga. Quando ela me ligou, eu pensava que se encontrava no Porto, cidade onde reside e trabalha. Mas não. Estava em Braga, mas não me disse nada para me deixar gozar tranquila o lazer da companhia e do repasto.
Quando regressei , o pai da estrela tinha um "brilhozinho nos olhos"diferente, A Ana veio, mas já se deitou. Fiquei desvanecida. Eu tinha tantas saudades! Mas não a podia acordar porque era tarde, ela chegara cansada e partiria de manhã cedinho para a cidade invicta. Deixei-lhe então o pedido escrito de não se ir embora sem me dar um beijo.
Hoje, estava eu no meu sono profundo , fui acordada por um sussuro suave e pelo brilho duma lanterna pequenina a incidir sobre o meu rosto. Vi claramente a minha filha, o seu sorriso e os seus longos cabelos ondulados, Já vou, mãe.
Tudo doce. Tudo rápido. E uma alegria enorme a invadir-me toda. Levantei-me , fiz os arranjos matinais e saí. A Avenida Trinta e Um de Janeiro? Verde como sempre e linda, com as árvores frondosas, gravidíssimas de verdura. O céu, lá por cima, muito azul, com levíssimas nuvens brancas. Mas mais bonito era o rosto da minha filha com o seu sorriso e os seus longos caracóis ondulados.
E então aconteceu uma maravilha inusitada: descobri que a alegria tem mais uma cor, ANA. E descobri o motivo das cores terem rosto. Verdadeiramente surpreendente esta descoberta!

Comentários

Anónimo disse…
Desculpe-me o atrevimento mas aconselhei alguns meus alunos virem aqui ler estes textos. Fiz mal? Não. São alunos sensíveis que gostam de dançar com as palavras como a IBEL.

Ainda não tive tempo de ler o arquivo do blog. Quando o fizer digo alguma coisa.
Isabel
Anónimo disse…
Olá Isabel,

Muito obrigada por recomendar o meu blog aos seus alunos.Não é atrevimento nenhum pois os bolgs são espaços públicos.É um cantinho muito íntimo, mas que eu gosto de partilhar.Tem uma alma muito bonita, Isabel.E gosto do seu nome...
Anónimo disse…
Quanto a este autêntico recital de poesia em prosa, apenas me ocorre o título do seu penúltimo texto: "Uma Salva de Palmas"...

Releiam em silêncio. Talvez possam escutar um leve bater de asas!!!
Elisabete disse…
Palavras (minhas) para quê?
"Made in Ibel" e está tudo dito.
Beijo
Delfim Peixoto disse…
Um acordar doce,certamente.
Fiquei aegre também...
Anónimo disse…
Verdadeiramente surpreendente este blog! Cheguei cá via Alda e pelos vistos somos todos colegas.Visito alguns blogs, mas este tem um configuração muito intimista que me agradou sobremaneira, e vou estar sempre atenta e muito curiosa. Parabéns,Ibel. Que disciplina lecciona? Deixe-me adivinhar, está bem?
Até breve.
Delfim Peixoto disse…
O Professor Fidalgo tem uma surpresa ( agradável, espero) no meu blog
Obrigado
Ana disse…
Enquanto li, vivi todos os momentos descritos no texto! :)
Anónimo disse…
P'ra sempre Lia:
Lindo. lindo, lindo este texto sobre as cores e a cor do amor e felicidade.
Eu não venho aqui há tempos infindos, o Tempo da vinda para o Faial, o acertar destes dias de espera enquanto não vem a "minha" internet.
A cor da minha saudade por ti, Dica e Daniel é cor de biscoito, carregadinha de mimo da Mãe que os fazia.
Beiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiijos, daqui, computador da Bia, M.R.P.
"MAR de BEM", vossa Margarida
Anónimo disse…
Queridoa amigos,

É tão bom conviver convosco!!!!!!


Obrigada a todos.

Rosário e Tricotes,fico à espera de novas visitas.

Mar de BEM,

Até que enfim!!!! E esses Açores?

Beijos da cor da ALEGRIA-MUITOS BEIJOS!

Luís,já no "Público"? Quem é bom é bom.Quando lhe dei o dezoito já sabia o tipo de condor que tinha pela frente:-)
Anónimo disse…
as cores da alegria!!gosto principalmente de verde na mistura do amarelo com o azul de fundo!!
tem dito que não tenho estado com a minha alegria de sempre talvez porque sinta saudades desses dias com essas cores, mas principalmente o que me tem transformado essa alegria em receio é mesmo o facto de eu imaginar que daqui a pouco mais de um mês, ja não estou a viver o que de bom a vida me trouçe, a minha turma os professores a quem eu devo muito, principalmente a si que me fez gostar de portugues coisa impossivel á uns anos.
não tenho mais que dizer que alegria que a stora tem ficara sempre no meu coração como uma lembraça boa!!

beijos
Anónimo disse…
Minha Joaninha!
Fiquei tão contente por teres voltado! Então a tua tristeza é por pensares que vais deixar a turma e os professores? Agora imagina a minha, por saber que faltam duas semans para deixar de ser vossa professora.Estes três anos foram de muito amor, mas ele não acabará. Tu vais para a faculdade continuar um percurso de florescimento, eu irei ficar por aqui sempre à espera da vossa visita.
Adoro-te, menina sorridente.
Anónimo disse…
A cor da alegria não tem mais uma cor, tem a cor da ANA, que sempre foi o BRANCO.O branco do seu olhar,o branco do seu sentir,o branco da sua alma sempre...
Cinda

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