O meu nome é Ibel

O primeiro menino a explorar e a atiçar a minha imaginação foi o Luís. O Luís é filho dos irmãos que eu escolhi, e foi uma das escolhas mais limpas da minha vida. Os meus irmãos são a Gracinda e o Castanheira, e a minha filha trata-os por tios. Este tratamento nasceu espontâneo, como brisa que se dá a outras brisas, porque o tempo assim quis que se dessem. E, às vezes, o tempo acerta na hora e no momento. Eu sou madrinha de baptismo da Marta e a Cinda é madrinha de curso da Ana, minha filha.
Continuando com as brisas, o Luís tinha os olhos grandes e redondos e adorava histórias, sobretudo as que eu lhe inventava. E quantas lhe inventei enquanto comia, que ele era um diabinho na hora da refeição! Cada três colheradas era uma história, e então vinha o lobo que gostava de meninos e dormia com eles no Inverno para os aquecer e fugia de manhã para a floresta, vinha a lua que se tornara amiga do Luís numa viagem de avião, vinha o mar em baldinhos a escorrer da minha imaginação transbordante e vinham outas palavras que o Luís há-de saber.
Sempre que eu aparecia, os olhos do Luís alegravam-se de contentes e a sua alma corria para eles como um sol que escorre no mar.
Um belo dia, era ele ainda muito pequenino, depois de palhaçadas e de piroetas com ele no ar, enrolados os dois em gargalhadadas, eu escondi-me atrás de uma porta e fiquei a espreitar...
Os olhos do Lúis começaram a procura, redondos de uma certa inquietação e a sua vozinha insegura soltou-se assim-Ibeeeeeeeel!
O Ibel soou-me a mim como um cântaro que procura a água branca da fonte ,ou como um canto atirado ao ar por uma avezinha que procura a mãe . E assim fiquei, para o Luís e para o resto da família e agora para a Matildinha, sua marota, ( baptismo que o avô lhe deu!) , filha do Luís, minha neta primeira, cópia do pai, sobretudo no olhar e , por isso, muito mais passado a beijar o presente , e a trazer lembranças que aquecem neste começo de Outono da vida.
Mas ela é mesmo marota! Outro dia , depois do pai natal que lhe dei, que soltava aparatosos OH,OH, OH, em voz grossa, enquanto dançava, quando a avó perguntou- Quem deu?, a marotinha riu-se e disse- a Bé!
Eu gostei. Estávamos em quadra natalícia.

Comentários

Anónimo disse…
Eu sou a "irmã" da Ibel e do Fidalgo, a mãe do Luis e da Marta, a avó da minha pipoca Matita e a "tia-madrinha" da minha afilhada Aninha.Ao ler a história do nome Ibel abre-se a arca da mémoria e solta-se o choro comovido e doce que se resume no sábio saber popular que diz "quem meus filhos beija minha boca adoça"e que "os netos são duas vezes filhos".Obrigada Ibel e que esta ternura que nos enlaça se prolongue e continue a enlaçar os nossos filhos e os netos que hão-de vir. Eu acredito...lançámos as sementes e a terra onde as espalhámos é de boa cepa e os frutos hão-de ser suculentos e ricos.A vida está confusa mas estes valores hão-de perpetuarem-se, porque os alicerces são fortes.O amor, a ternura, o afecto,não deixarão cair o melhor que a vida nos deu, que é esta capacidade de nos amarmos e sermos amados, sempre sem nada esperar e tudo ter, que é esta certeza de sempre estarmos unidos sem amarras de hiprocrisia ou conveniências momentâneas.Parabéns a todos nós por termos sabido criar esta família franca nos nossos afectos
Anónimo disse…
As palavras não são o meu forte!
Chorei ao ler as tuas!
Um beijão para a "minha" Ibel!
Luís
Anónimo disse…
Professora!!!!!! EU quero ser o Luís para andar enrolado em gargalhadas.
Acredito em tudo porque a conhecemos bem e as aulas são de muita lôcura!Viva a Ibeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee!
Este ano vai haver passeio ou não?
Já comecei com o Memorial e adormeço mais depressa...
Anónimo disse…
Cinda e Luís
Ainda bem que vieram, sobretudo o meu menino!
A passagem do ano, junto de ti,Luís,e dos teus pais, da tua Carla e da tua Matildinha,foi um bom começo de Ano Novo.
A tua semente está a florescer com sabor a frutos de mim...
É mesmo bom!
Beijos
Anónimo disse…
Vénus

Olha que eu não sou Marte...,sua engraçada!
Com que então o Memorial dá sono?
Vai-te queixar ao Saramago!

A gente depois conversa...Vê se te manténs acordada!
Anónimo disse…
"Era uma vez uma estrelinha, de seu nome irrequieta. Todas as noites,pulava de casa e brincava no céu com as primas nuvens e com as outras irmãs cintilantes..."
Um pequeno excerto de memória, com palavras que me foram dedicadas e que guardarei para sempre no meu baú. Ibel, co-criadora da luz que aquela estrela emana!
Obrigada, primo Luís, por teres aguçado a imaginação da minha mãe e a teres feito criar histórias "ibelas", delas fui ouvinte atenta ("Mãe, onde vais?Acaba a história!")!
Obrigada, madrinha da minha ESCOLHA (palavras não chegam...)
Obrigada, primusca Marta, irmã para a Vida!
Obrigada, tio Castanheira, Atlas da minha existência.
Obrigada, pedaços de mim, frutos de Nós e mar!!!
Anónimo disse…
Obrigada Ibel, Obrigada Aninha...
é esta visita à arca das memórias que cada vez mais nos une,e nos faz sentir o quanto importantes somos uns para os outros.Tia cinda
Inês disse…
A minha professora é uma princezinha :)

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