BRUMAS


Antes da luz
Eu já lia e escrevia
No ventre de minha mãe
E ouvia a tabuada
E os rios e os reis
E os recreios também.
Era bom o ventre
berço
E as paredes da escola
Por isso me fiz ao leme
Para apostar na herança
Ateada no tear das veias
E prossegui viagem
Doce aragem num mar
Onde as águas floresciam
E os peixes recresciam
Em ondas altas de espuma
Hoje à deriva trago
O barco estilhaçado
Nas amarguras da bruma
E o enjoo me traz à proa
Mas num mar em pranto
Grito meu ou desencanto?

Comentários

Helena disse…
Adorei! Só gostava de mais optimismo na parte final. Beijo, Ibel.
Zé disse…
Mas como eu gosto da sua poesia, professora Ibel!!!!

Cumprimentos
Cris disse…
Lia
Que ventre cheio de amor!
Sua tristeza e doce.
Deve ser uma linda visão teus olhos rasos d'água.
Porque tudo em ti em poesia.
Saudades.
Um longo abraço e beijos nesse coração.
Delfim Peixoto disse…
Ibel, uma "fotografia" animada por palavras, de desalento no final.
Há que gritar porque ainda temos voz .
Do nosso grito nascerá novamente poesia e Arte ...
Os vermes, podem sempre aniquilar-se
bjs
FILOMENA disse…
Genial, Isabel! Talvez D. Sebastião regresse e com ele traga a esperança.Quem esperou tantos séculos pode esperar um pouco mais.
AC disse…
As suas palavras tocam profundamente, obrigando sempre a questionar-me(-nos)...
Ao longo da sua história, a espécie humana foi transpondo degraus na sua evolução ética porque, nos momentos decisivos, soube ouvir os seus pensadores e artistas.
De repente, servindo-se de armas que exploraram os nossos instintos mais básicos (o ter) os mangas de alpaca atiraram com os humanistas borda fora e, de calculadora na mão, tomaram conta dos nossos destinos. Olhando em volta, todos poderão constatar os resultados.
Perante este cenário, quem, de boa índole, não se sente agoniado/desencantado?
Mas... sabe uma coisa, Ibel? O simples darmo-nos conta já é meio caminho andado para a mudança. Oxalá consigamos, de forma definitiva, começar a exercer o nosso direito de cidadania.
Quanto à Ibel, continue a escrever desta forma. Nós agradecemos.
Castro disse…
A elegância da escrita e da ternura.
Anónimo disse…
As águas podem não florescer e os peixes podem não recrescer como dantes...porém, quem vai ao leme desse "barco estilhaçado" faz toda a diferença. E nós, como outros antes de nós, continuamos a admirar a Mulher do Leme, a sua força, a sua sensibilidade, a sua poesia.
Não serão os AFECTOS tão importantes, apesar da tormenta?

Beijinho

Mafalda e Francisca
Vénus/ m.r. disse…
Num intervalo de estudo, aproveito para a visitar e pôr a leitura em dia.Sempre maravilhosa, querida professora/amiga.
Na sexta fizemos uma festa na faculdade e apresentámos os poemas de amor da Sessão Solene da escola.Foi um sucesso.
OBRIGADA por tudo o que nos ensinou.
Beijos
lourdes disse…
És uma mulher linda, Isabel!!!!!
E hoje não te trato por Ibel, mas pelo teu nome inteiro igual a ti, mulher sem papas na língua desde o tempo da faculdade.E eras tão doce,também!Sempre tiveste qualquer coisa de diferente que fazia com que muita gente te amasse ou não te gramasse por inveja, ainda que perdoasses sempre e estivesses disponível para tudo.Tenho saudades de convivr contigo, mas a distãncia é muita. pensei que te tinha perdido o rasto e fui-te encontrar nom blog nacional.E que apelido!!!
Daniela disse…
É sempre uma boa surpresa ler palavras sentidas. Gostei do poema mas achei-o um pouco triste no final... ou antes, desilusão talvez. Há mais marés que marinheiros...
Bjs, doces
Anónimo disse…
Um poema com duas partes bem nítidas:o encanto e o desencanto.
Como eu a compreendo!
ALDA
Mesmo com algum desencanto é tão poético que todo ele se transforma num enorme encanto. É pureza a subtileza da tua poesia. Adoro-a!

Beijinho
gracinda disse…
Lendo atentamente o poema guardo a primeira parte do retorno ao ventre materno.A parte do desencanto esqueçámos e fixemo-nos nas boas memórias, no calor das amizades aqui descritas e naquelas que no dia a dia coabitam connosco ou estão no baú da nossa história de vida
Irmã Cinda
isabel disse…
!...As águas vão (re)florescer e os peixes recrescer", não podemos deixar o barco à deriva num mar de desalento.
amigas da prof. disse…
Na poesia se descobre a mulher criança que adoramos.
Mar de Bem disse…
"Hoje à deriva trago
O barco estilhaçado
Nas amarguras da bruma
E o enjoo me traz à proa
Mas num mar em pranto
Grito meu ou desencanto?"

.................não me faças chorar!.........

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