O BEIJINHO E A BUZINA
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Era um búzio pequenino
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era a sua companhia .
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Ia na mão de um menino
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se o levava, onde iria ?
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Levava-o para brincar
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era o que ele dizia .
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Punha-o na beira no mar
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esperando o que fazia
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Vinha a água de mansinho
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que logo o búzio molhava
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e o menino o secava
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sempre fazendo um miminho
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De tantos beijinhos levar
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ficou o búzio meiguinho ,
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passou-se então a chamar
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não búzio mas só beijinho
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Havia os búzios maiores
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que os adultos guardavam
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trazidos pelos pescadores
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nas redes que os emalhavam
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A esses chamavam buzina
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mostravam o ruido do mar
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sussurrando em surdina
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o vento no mar a soprar
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Se queriam saber do mar
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os búzios os informavam
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quando em casa os escutavam
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antes de ir marear
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Deixavam ouvir o mar
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quando postos no ouvido
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mostrando qual era o ruido
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da água em seu marulhar
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O marulhar sendo forte
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deixa prenúncio de morte
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e sendo sussurro ligeiro
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há de ser mar companheiro
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De búzios falam também
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poetas e pensadores ,
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mas os pobres pescadores
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só pensam nas águas que vêm
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Pescadores não são poetas
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alguns até o serão ,
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nem quererão ser profetas
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e nem sabem o que são
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raminhos de violetas !
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Buscam só seu ganha-pão .
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ESTIO À BEIRA-FRIO
Sinto no frio da água E no outono da folha O Inverno ch egado. Um certo desalento Um certo desagrado E uma paixão no mesmo assento. Porque será ? É agora o tempo Do crepitar da brasa E do silêncio recolhido No calor do livro. É tempo de carpir E de despir a árvore A folha desbotada. Mas se é lisa a fêmea vegetal Cobre-se de folhagem O chão E a fria paisagem Esquenta a emoção Da miríade miragem. O vento geme nos beirais E dos confins do céu Não há sinais de asas. A chuva é cântaro Mas crepita o lume E a mão espevita Lascivamente o livro. A página levanta a saia Num sorriso de catraia E faz-se estio à beira-frio.
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