Depois que a casca envelheceu
ainda tem sonhos
nem sei como isso acontece
mas a verdade é que de noite
uma vegetação de sílabas
e um murmúrio de cores
irrompe subitamente do escuro
numa ária de poemas soltos.
Floridos e enramados
vêm agitados de primavera 
a entoar cantares de amor
com agulhas nos lábios.
É na hora dos sentidos despertos
em que os sonhos se acomodam
e, num só trago,
a boca mede um copo de vinho maduro
para chegar a Ítaca.
Então, em vez de ar, é mar
o que se agita em  corolas infinitas
de espuma cantante
e o lábio guloso pede a renovação
de Baco no copo sequioso
até que Ulisses regresse
à casa do amor
com corais e ébanos coroado.


Circe- Tela de John William Waterhouse
  

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