Estou a olhar para os teus dezanove anos, Matilde,
e a lembrar-me dos meus
quase a baterem à porta de uma outra década
construída, ela também, com navegações palpitantes de estrelas
sobre o coração.
E outra e outras!
Como são longos os teus cabelos
e os teus olhos espraiados em marés de sonhos.
Olhos que veem para além do real
que pesam o odor do ar e da terra, a música da água e do fogo
olhos que abrem todos os sentidos para o voo extenuado das aves a namorar coração.
Estou a olhar para os teus dezanove anos e quase que sinto inveja,
Matilde, por ainda estar neles e já tão distante.
Um dia vais olhar para os teus retratos
( peço-te que os guardes)
e vais revisitar os teus rostos do cimo das escadas.
Não serão iguais mas são a tua árvore, a tua raiz , os ramos
que ajudaste a crescer.
Mas hoje navega apenas nos teus 19 anos
chapinha no seio das rosas
solta-te para a abundância dos lábios
para a agitação dos olhos, dos beijos
para a sensualidade dos teus cabelos longos
a emoldurar os teus olhos espraiados em marés de sonhos.
Esquece o vírus.
Será apenas um acidente na tua estrada
que te desejo longa como os teus cabelos
e com os teus olhos espraiados em marés de estrelas e de rosas.
Se estenderes o olfato, elas estão lá fora
dispostas a festejar, mesmo nos muros,
a beleza dos teus 19 anos onde tudo canta numa 
dança de fogo
com a exuberância dos teus longos cabelos
e dos teus olhos espraiados em marés de sonhos
com estrelas precipitadas sobre o coração.



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