Um caudal de água fria
numa margem do olhar
uma friagem vítrea na carne
um farricoco quaresmal
em procissão de enterro adiado.
Gorjeia uma ave no ar esquivo
e medito um rio azul de azul
ou um verde de aguarela
perto da lonjura. 

Ou perto de Ti
porto para a distância.
De todos os barcos que naveguei sobram-me remos
mas nenhum atravessa de sol a varanda fria
onde penduro o que ainda rescende a flor por abrir.
Nesta Páscoa árida, um Cristo ressuscitado
vem mais redondo de morte. 

No branco da renda
o seu corpo de arcanjo agoniza espalmado
numa dor vertical 

repetida por séculos e séculos 
em  misérias sombrias
e dores  sem remédio.


.


Comentários

Mensagens populares deste blogue

ESTIO À BEIRA-FRIO

CHÁ D'ABRIL

Velas e rosas apaziguadas.