Ilusão

Quando os meus olhos disserem adeus às coisas últimas
e atirarem um derradeiro aceno às palavras que me cercam
não sei se a consciência terá a lucidez para escrever ainda
um verso inteiro ou mesmo partido pelo ângulo agudo da vertente
onde me deitei sobre sonhos e sonhos. 
Sei que gostaria,
no adeus da despedida, ouvir a voz da aurora
a ressoar num cântaro junto à fonte,
o encaracolar das rolas nas árvores quentes de ser estio
o azul descarnado do fim do sol,
numa carícia solitária de intimidade.
Quando os meus olhos se fecharem 
para a imensidão de ser eu
uma partícula ínfima de nada,
uma voz de berço podia vir de mansinho
fechar-me os olhos como um beijo
para eu partir na ilusão de que na imensidão do vácuo
a música não cessa no corredor das rosas cerceadas.



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