"Quem vai e atravessa o rio" fica naquele deslumbre de quem chega onde nunca deixou de estar. Porque as terras são essencialmente sensoriais e com singularidades afetivas. As que andam a piscar-me ao coração sempre as senti desse modo. 
Barcelos deveria ser barcela porque as águas e a ponte são liricamente femininas, apesar da imponência do castelo a namorá-las. E elas cantam-lhe versos para que não se sinta exilado . Como naquela história do urubu solitário, dizem provocadoras, be happy! 
Sabem todas as línguas as águas. Pascoaes diria de Barcela " Dá a surpresa de ser/ é alta de um loiro escuro". Ou talvez  dissesse morena, que é do norte, pela força do destino.

Barcelos, terra de berço, da feira ( ai a feira!), do parque, do turismo encostado aos suspiros, da Festa das Cruzes, do fogo de artifício a estralejar sobre o romantismo do rio, dos tapetes do Senhor da Cruz, dos rojões da Bagoeira ou do polvo assado na brasa, do cabritinho..., Barcelos só pertence a quem a sabe amar.

E poderia falar doutras lembranças, medidas de todas as coisas, mas fico-me, agora que estou lucidamente perto, mas desamparada na clausura, a afundar os olhos na imagem onde as memórias sobrevoam.

Que me perdoe o Rui Veloso, mas roubo-lhe o verso e modifico-o. 
Quem vai e atravessa o rio entra num inadiável pão. O primeiro. Ou num verso.  
Um verso ao sol molhado.







 

Comentários

Lídia Borges disse…

Um hino à cidade de Barcelos, rio, barca, poema, raiz...

Bj.

Lídia

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